Na origem do impasse está a resistência da administração em reconhecer alguns dos direitos exigidos pelos trabalhadores da empresa. A decisão da administração tem implicações não só para jornalistas, mas também para os técnicos que trabalham na RTP. Contactado pelo JPN, o Conselho de Administração da RTP negou-se a prestar declarações.

Maria João Barros, vogal da direcção do Sindicato dos Jornalistas e jornalista da RTP, explicou ao JPN quais são as exigências dos trabalhadores da estação e confirmou a greve marcada para os dias 18, 19 e 20.

Quais são as exigências dos trabalhadores da RTP?

A administração pretende que quando uma pessoa sai para fazer uma reportagem, se exceder o tempo normal de trabalho, esse tempo de viagem não conte como tempo de trabalho. Para a administração o tempo de deslocação não é tempo de trabalho. Não podemos aceitar uma coisa dessas. Seria recuar vários anos para trás em termos de condições de trabalho.

Mas também existem queixas por causa dos horários de trabalho?

O horário normal de trabalho vai desde as cinco da manhã e termina às 13 horas. Ora, numa segunda feira poderão marcar um trabalho que começa às cinco, e na terça feira podem-me dizer que tenho de sair à 1h00. Em termos físicos e mentais, trabalhar nestas condições é terrível. Não há físico que aguente acordar um dia às 3, outro dia às 4…
Querem impor este horário como horário normal, com a agravante de não ser compensado com deve ser. O que pretendemos não é propriamente o dinheiro. O que queremos é que o subsidio inerente ao horário tenha um valor que restrinja a sua aplicação.

As negociações com a administração estão a ter resultados práticos?

Estão a ter resultados, mas nestas questões fundamentais nem nós e nem eles somos flexíveis.

A greve que está marcada para os dias 18, 19 e 20 está a registar adesão e apoio por parte de todos os trabalhadores da RTP?

Ainda hoje estive na redacção da RTP em Lisboa e a receptividade é muito grande. As pessoas estão mesmo zangadas e ainda mais zangadas ficaram depois de terem visto as declarações de Almerindo Marques. A atitude dele tem sido sempre muito prepotente e ali viram com quem estamos a lidar.

Mas acha que a adesão será significativa?

Sou como o João Pinto, “prognósticos só mesmo depois do jogo”. Mas tenho esperança que as pessoas saibam o que está em causa, saibam o que vai significar em termos de trabalho de futuro. E demonstrem à administração que não estão dispostos a pactuar. A administração tem feito muita presão. Tem andado em cima das pessoas para assinarem individualmente o acordo do contrato de trabalho. É uma pressão louca.

A greve terá impacto na programação normal da RTP?

A programação está organizada sempre com dois a três dias de antecedência. Nesse sentido não sei dizer com certeza se não haverá emissão. Depende sempre de muitos factores. Quanto aos programas em directo, se a adesão for maciça, poderão acabar por não ser emitidos.

Hugo Manuel Correia
Foto: RTP