A chuva que se tem feito sentir em Portugal, e que se prevê continuar nos próximos dias, é insuficiente para fazer subir o volume das albufeiras, devido ao estado de secura dos solos, referiu terça-feira Rui Rodrigues, responsável pela área de recursos hídricos do Instituto da Água (INAG).

O especialista explica que é “primeiro necessário que os solos atinjam um estado de saturação para que a água escorra e vá convergir nos ribeiros e rios que depois vão afluir às albufeiras”. A situação que o responsável enuncia verifica-se porque a seca, ao invés de outros fenómenos como as cheias, tem efeitos cumulativos.

O efeito cumulativo é proporcional à maior necessidade de precipitação para reverter o efeito da seca. “Quanto mais tempo dura a seca, maiores terão de ser os valores da precipitação para que se reponha a normalidade, salientou Rui Rodrigues.

O défice, que se vai agravando com o tempo, ronda em Portugal Continental os 500 milímetros de precipitação, porquanto no ano hidrológico de 1 de Outubro de 2004 a 30 de Setembro de 2005 apenas caíram 398,4 milhões de milímetros de chuva, contrapodo-se a uma média de 912,5.

No mês de Setembro, por exemplo, caíram apenas 14 milímetros de chuva em Portugal face a um valor médio de 41.

Portugal precisa de 300 milímetros de chuva

Para inverter a tendência do défice de precipitação, Portugal precisa de 250 a 300 milímetros de chuva. Um valor que permitiria a saturação dos solos e o escoamento das albufeiras.

No entanto, o especialista do INAG alerta que o aumento do volume não é suficiente para reverter a actual situação. Segundo Rui Rodrigues, são necessárias outras condições, como “constância e permanência [da precipitação] no tempo”.

Do total das 57 albufeiras monitorizadas pelo INAG, duas tinham disponibilidades hídricas superiores a 80% do volume total e 34 disponibilidades inferiores a 40% do volume total.

Os armazenamentos de Setembro de 2005 por bacia hidrográfica apresentam-se inferiores às médias de armazenamento de Setembro em 2000, excepto no caso da bacia do Ave.

Na semana passada, altura em que foi divulgado o relatório quinzenal da Comissão para a Seca 2005, todo o país estava afectado por algum grau de seca, com 61% em seca “extrema” e 36% em seca considerada severa.

Pedro Sales Dias
c/LUSA
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