“No dia seguinte ninguém morreu”. É desta forma que começa o 23º romance de José Saramago. “As Intermitências da Morte” já foi lançado no Brasil e é editado em Portugal na próxima semana.

A apresentação do livro, com cerca de 200 páginas, aconteceu ontem, quinta-feira, em São Paulo. Estiveram presentes os actores Dan Stulbach e Leona Cavalli, que fizeram uma leitura dramática de um trecho do livro, e o violinista Johannes Gramsch apresentou composições de Bach, cuja “Suite Número 6” é citada por Saramago.

“Se algum talento tenho é de tornar o improvável provável e o impossível possível. Mesmo que isso não possa acontecer, pelo menos enquanto o romance estiver a ser escrito e lido acontece”, afirmou o Nobel da Literatura português.

É, com efeito, a partir de uma situação “impossível” – mais do que “improvável” – que “As Intermitências da Morte”, que sucede a “Ensaio sobre a Lucidez”, editado em 2004. Cansada de ser detestada pela humanidade, a morte decide suspender actividades e as pessoas deixam de morrer.

“Como o tempo não pararia, as pessoas envelheceriam e ficariam numa situação de velhice eterna”, explicou Saramago, que revelou que teve a ideia para a obra ao ler um livro que relatava a morte de uma pessoa, o que o levou a perguntar o que aconteceria se os homens não morressem.

O que era um sonho da humanidade – a vida eterna -, torna-se num problema enorme: os idosos e os doentes esperam a morte penosamente, mas ela nunca chega; as funerárias já não são necessárias; as agências de seguros ficam sem boa parte dos proveitos; o governo não sabe como resolver o problema da Segurança Social. Até a igreja entra em crise porque “sem morte não há ressurreição, e sem ressurreição não há igreja”.

“O ser humano alimentou sempre a esperança de conseguir a imortalidade, mas sem morte a vida seria um caos”, sustentou o escritor, que acrescentou que ele próprio, prestes a fazer 83 anos, se sente “um pouco a entrar na eternidade”, mas “felizmente em boas condições”.

“As Intermitências da Morte” está a partir de hoje nas livrarias brasileiras. Chega na próxima semana a Portugal, Espanha e ao resto da América Latina.

Pedro Rios
Foto: Arquivo JPN