No primeiro debate dos 10 entre candidatos às eleições presidenciais de 22 de Janeiro do próximo ano, sorteados pelos canais públicos de televisão, Manuel Alegre e Cavaco Silva protagonizaram uma discussão amena, com vários pontos sem divergência e sem grandes trocas de acusações.

O debate, transmitido ontem, segunda-feira, na SIC, foi moderado pelos jornalistas Ricardo Costa e Rodrigo Guedes de Carvalho.

A importância dada às questões económicas nos 60 minutos de debate foi talvez o que mais separou os dois discursos. Cavaco e Alegre apareceram como quem não quer perder posição na corrida – ocupam, respectivamente, o primeiro e o segundo lugar das sondagens mais recentes – e, talvez por isso, tenham sido cautelosos.

Alegre rejeitou até a tese, já defendida por Soares, que a vitória de Cavaco pode pôr em causa a Constituição e os poderes presidenciais lá consagrados. “Não devemos alimentar papões”, disse o candidato independente, acrescentando que todos os candidatos presidenciais “respeitam a Constituição e são democratas”. “Não deixarei de dormir descansado [se Cavaco for eleito] e de estar atento se por acaso houver alguma deriva”, afirmou.

Numa alusão à célebre expressão “forças de bloqueio”, utilizada por Cavaco nos tempos de primeiro-ministro para designar algumas instituições do Estado, o candidato apresentou-se agora como uma “força de desbloqueio” na resolução dos problemas nacionais e voltou a reconhecer que o uso dessa expressão foi um “erro político”.

A economia também dividiu ligeiramente os candidatos. Alegre acusou Cavaco de ter uma “visão muito economicista”, de não ter aproveitado a época favorável em termos de financiamentos comunitários para investir na educação e sublinhou que há “muitos défices” para além do das finanças públicas na crise “muito complexa” que Portugal atravessa.

Cavaco respondeu argumentando que foram construídas muitas novas escolas e que a escolaridade mínima obrigatória foi aumentada durante os seus governos. E defendeu: “O desenvolvimento é económico, social, cultural e ambiental. Mas se falha a economia podemos ter muitas ilusões mas não conseguimos dar resposta à defesa da língua portuguesa ou ao desemprego”, ressalvando, contudo, que o “redução do défice não é um fim em si mesmo”.

Pedro Rios
c/ Lusa