Com o século XXI ainda no seu início são várias as teorias criadas no sentido de prever um futuro para o sistema político mundial e a maneira como os vários agentes (vulgo países) vão interagir uns com os outros.

Uma das teorias mais interessantes que se tem vindo a desenvolver já desde meados do século XX é a de que o mundo só vai encontrar paz e estabilidade quando existir um Estado que reúna todos os Estados agora existentes, contrariando a actual tendência de anarquia, ou seja, de caos das relações entre os Estados.

Alexander WendtO professor de Ciência Política da Ohio State University, Alexander Wendt, 47 anos, é autor de um artigo intitulado “Porque é inevitável um Estado mundial” [PDF], em que defende e argumenta a necessidade e a inevitabilidade de, a longo prazo (100 ou mais anos), ser criado um Estado único para todo o mundo.

Considerado pela revista de política internacional “Foreign Policy” o terceiro mais importante pensador político da actualidade, à frente de nomes como Samuel Huntington ou Francis Fukuyama, Alex Wendt explica ao JPN que um Estado mundial pode prevenir conflitos violentos e será, muito provavelmente, criado a partir das Nações Unidas, num sistema democrático e capitalista. Wendt acredita que o principal problema do futuro vai ser a distribuição de recursos, chegando mesmo a pôr a hipótese de uma “revolta do Terceiro Mundo”.

O que é que quer dizer quando fala na inevitabilidade de um Estado mundial?

Pode levar 200 ou 500 anos, mas a ideia básica é que, a longo prazo, todos os caminhos da evolução do sistema irão chegar a esse resultado.

O que é que significaria para o mundo ter um Estado mundial?

Várias pessoas pensam coisas diferentes sobre isto, e dependendo dos pontos de vista concluir-se-á – ou não – se um Estado mundial é inevitável. Mas o que eu tentei fazer no meu artigo foi tentar construir um argumento que defenda um Estado mundial como portador do monopólio do uso da força, que é a definição tradicional de Estado. Isso pode não significar um governo centralizado igual aos governos internos que temos hoje, mas seria necessária uma autorização colectiva para o uso da força.

Acredita que essa autorização colectiva seria possível?

Sim, de acordo com o meu artigo é inevitável. Pode é demorar muito tempo.

Que tipo de governo teria um Estado mundial?

Esperemos que um democrático [risos]. Existirá um tipo de estrutura democrática, mas não tenho uma ideia exacta de como seriam os detalhes.

No contexto de um Estado mundial ainda existiria guerra?

Poderão haver conflitos violentos nalgumas situações, mas da mesma maneira que internamente quando existem conflitos o Estado intervem e põe termo à disputa, o mesmo se passaria a nível mundial. As guerras não seriam habituais dentro do sistema.

Que tipo de situações é que poderiam levar a um conflito?

Penso que conflitos pela distribuição de recursos entre o Norte e o Sul serão os mais importantes, que é algo que não abordei no meu artigo. Existirão também problemas em termos de reconhecimento de direitos que podem produzir conflitos. Mas penso que a problemática da distribuição é, a longo prazo, o maior desafio. Uma revolta do Terceiro Mundo, por assim dizer.

Poderia um Estado mundial ter um fim e, se assim fosse, que forma de organização se seguiria?

Outras pessoas já me fizeram esta pergunta e eu não lhes consegui responder. Poderá acontecer como acontece hoje em termos de política interna, ou seja, uma evolução e mudança constantes. Não tenho certezas sobre qual seria o caminho do sistema a seguir, mas não acho que haja apenas um caminho, por isso não tenho nenhuma visão fechada sobre o assunto.

Tiago Dias
Fotos: SXC
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