Se em Itália são as claques como um todo que fazem da sua tendência política uma bandeira tão grande como a do clube que apoiam, em Portugal o caso restinge-se actualmente a pequenos núcleos, organizados ou não, dos grupos de apoio. Exceptuando o Grupo 1143, da Juventude Leonina, de extrema-direita e assumidamente nacionalista, mais nenhum núcleo ou grupo de apoio admite qualquer posição política.

Na década de 90, verificava-se a presença de bandeiras e símbolos quer de extrema-direita (cruz céltica, simbolos nazis) quer de extrema-esquerda (martelo e foice, bandeiras de Che Guevara) em várias claques portuguesas. Foi um período em que “estava na moda ter uma tendência política”, recorda Filipe Moreira, elemento dos Super Dragões (áudio), acrescentando que se notavam “as influências de Itália, país onde “grande parte das claques têm uma tendência política assumida”.

Apesar de ainda ser possível ver pontualmente símbolos de conotação política, estes são apenas reflexos de preferências de elementos isolados dentro da própria claque ou então de núcleos reduzidos que, ainda assim, não assumem qualquer tendência. Falta saber o quanto estes pequenos núcleos ganham apoio junto dos indecisos e dos jovens que pertencem à mesma claque.

Um nacionalismo assumido

Grupo 1143Um caso diferente é o do Grupo 1143 – ano em que nasceu Portugal -, um núcleo da Juventude Leonina, claque de apoio ao Sporting. Constituído por elementos conotados com a extrema-direita, o Grupo 1143 transporta a sua vertente nacionalista para dentro dos estádios exibindo variadas tarjas e faixas ligadas ao movimento nacionalista.

Conhecidos pelo cabelo rapado e pelas tatuagens marcantes, os elementos deste núcleo da Juve Leo são também filiados no Partido Nacional Renovador e marcam presença sempre que são organizadas manifestações pelo partido a que pertencem.

O Grupo 1143 é um exemplo único na maneira como assumem a sua tendência política. Mas estima-se que não o será em relação à sua convicção. Núcleos como a Divisão Azul, dos Super Dragões (vídeo), o Grupo Gore, dos Tuff Boys, que apoiam o Marco, da Liga de Honra, estão conotados com a extrema-direita, enquanto um grupo de apoiantes do Estoril é relacionado com a esquerda, devido aos seus cachecóis com folhas de cannabis. É uma faceta do mundo ultra português, embora vários elementos de claques digam que política e futebol devem-se manter sempre separados.

O submundo das claques de apoio a clubes desportivos, também denominado de mundo ultra, teve origem em Itália, em meados do século XX. Os primeiros “ultras” mais não eram que grupos de pessoas com as mesmas tendências políticas que aproveitavam a sua organização a nível político e a transportavam para os estádios. Nestes apoiavam o seu clube de futebol, também ele, geralmente, conotado com a facção esquerda ou direita da política italiana.

Sérgio Pereira Cardoso
Fotos: Fórum Ultras 12