Especialistas em pneumologia e no rastreio e tratamento de tuberculose abordaram hoje, o dia mundial dedicado à doença, no Instituto de Biologia Molecular (IBMC), a incidência da tuberculose em Portugal.

Numa investigação realizada acerca do desenvolvimento da tuberculose em 2005 verificou-se uma incidência abaixo dos 20 por 100 mil casos em metade do país e regiões autónomas. Uma outra parte do país tem uma incidência intermédia, excepto o Porto, que registou uma incidência superior a 50 por 100 mil casos, disse o director-geral de Saúde, António Fonseca Antunes. A desproporção justifica-se devido à falta de rastreio em algumas zonas do Porto.

De uma forma geral houve um decréscimo de 5% no número de doentes que não deve ser sobrevalorizado. “Devemos pensar no que fomos capazes de fazer embora ainda haja muito a fazer”, disse a pneumologista Maria João Gomes. “Estamos melhor, os números já não são tão assustadores mas falta fazer, se calhar, o mais difícil”, que se traduz por uma “melhor adesão dos doentes ao tratamento”.

Tendo em conta que pessoas entre os 14 e os 40 anos estão sujeitos a contrair a doença, o rastreio é uma parte importante do tratamento. Como refere Aurora Carvalho, pneumologista do Centro de Diagnóstico de Pneumologia (CDP), a doença e as suas causas são conhecidas, mas ainda morrem pessoas de tuberculose. A especialista defende “tolerância zero para a tuberculose” “para não haver desvios dos objectivos”.

As pessoas com quem o doente contactou ou partilhou uma divisão por um período superior a oito horas devem ser rastreadas tendo em conta factores como o tempo e recursos disponíveis.

Há que ter também em conta a prioridade da doença. Crianças com menos de cinco anos, indivíduos com HIV e ramos mais contagiosos da doença exigem um rastreio mais imediato.

Mais cooperação

Na conferência alertou-se ainda para a necessidade de mais cooperação entre diversas instituições para permitir uma melhor articulação de dados.

A Girugaia, representada por Alina Santos, é uma instituição financiada pelo Instituto da Droga e Toxicodependência que colabora com o CDP.

A instituição trabalha com indivíduos considerados de risco, como os toxicodependentes. A Girugaia esforça-se no sentido de “procurar” os indivíduos em locais onde costumam consumir as substâncias estupefacientes e diminuir, neste grupo, a percentagem de doentes infectados com a tuberculose.

Raquel Duarte, directora do CDP de Vila Nova de Gaia, esclareceu quais as freguesias de maior risco: Penafiel, Perosinho e Afurada (Vila Nova de Gaia) e Santo Ildefonso e Campanhã (Porto) são consideradas áreas de alto risco.

O importante é perceber a distribuição geográfica da doença para estabelecer uma “ligação entre os casos”: se os familiares fazem ou não parte do grupo de risco, “se partilham a mesma área residencial”, como por exemplo as ilhas, muito comuns no Porto, ou “se são colegas de trabalho”, referiu a directora.

Da conferência resultou a vontade de os profissionais da área se reunirem anualmente para debaterem o que foi feito e o que ainda falta fazer no combate a uma doença que continua a demonstrar, pelo grande número de casos, que não é um problema do passado.

Texto e foto: Maritza Silva