Xanana Gusmão não se vai demitir, pelo menos para já. A decisão de esperar algum tempo foi tomada depois do apelo do Bispo de Dili para que o presidente da República de Timor-Leste reconsiderasse a sua decisão.

Sob a forma de ultimato, o presidente timorense anunciou a intenção de se demitir, se Mari Alkatiri continuasse como primeiro-ministro. Na comunicação que ontem fez ao país, Xanana classificou o presidente da Fretilin, Francisco Guterres, o vice-presidente, Rogério Lobato, e o secretário-geral, Mari Alkatiri como “ilegítimos”, acusando-os de quererem “fazer o golpe e matar a democracia”.

Entretanto, milhares de pessoas estão em Díli para exigir a demissão do primeiro-ministro timorense. A manifestação começou esta noite, quando cerca de 700 pessoas se juntaram junto ao Palácio do Governo, em apoio a Xanana Gusmão. A concentração de timorenses obrigou ao cancelamento do Conselho de Ministros, marcado para esta manhã.

Na sequência do gesto de apoio ao chefe de Estado, num braço-de-ferro com o primeiro-ministro, Xanana deslocou-se ao local da manifestação para falar ao povo. “Ganhámos esta guerra”, disse, sem avançar uma solução para a crise política.

Também o chefe da missão da ONU em Timor-Leste, Sukehiro Hasegawa, apelou a Xanana Gusmão para não se demitir. Em comunicado, Hasegawa explica que já manifestou o apoio directamente ao chefe de Estado, numa reunião no Palácio das Cinzas, a sede da Presidência timorense.

O chefe da missão da ONU alega que a permanência de Xanana no cargo é “indispensável para a manutenção da paz e estabilidade” no país. Sukehiro Hasegawa apelou aos timorenses para que “rejeitem tentativas de dividir a nação”.

Entendimento sobre demissão de Alkatiri

O ministro dos Negócios Estrangeiros timorense, José Ramos Horta, adianta que há um entendimento político sobre a demissão do primeiro-ministro, Mari Alkatiri. A decisão deverá ser formalizada amanhã e surge depois de uma reunião do comité central da Fretilin. Ramos Horta deu a entender que o partido maioritário terá escolhido novo nome para primeiro-ministro.

Entretanto, o primeiro-ministro português, José Sócrates, reagiu ontem à crise política em Timor, acreditando que os timorenses “saberão encontrar uma resposta política à altura das circunstâncias, no respeito pela Constituição”.

Entre 3 a 6 de Julho, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) vai enviar uma missão a Timor-Leste para encontrar formas de ajuda na pacificação do país.

Carina Branco
Foto: UNESCO