Começou hoje, segunda-feira, o segundo julgamento do ex-presidente iraquiano, Saddam Hussein, referente à morte de milhares de curdos em episódios ocorridos no final da guerra Irão-Iraque (1980-1988).

O veredicto, marcado para 16 de Outubro, pode condenar Saddam à morte por enforcamento. No banco dos réus do Alto Tribunal Penal iraquiano sentaram-se também seis antigos comandantes das suas tropas, igualmente a ser julgados por genocídio e crimes contra a humanidade.

Em causa estão as supostas atrocidades cometidas na chamada campanha de Anfal, em 1988, no Curdistão iraquiano, onde pelo menos 100 mil curdos terão sido mortos, com recurso a gás venenoso. Três mil aldeias terão ainda ficado destruídas durante a operação Anfal, palavra que em árabe significa “despojos de guerra” e que é retirada do Corão, o livro sagrado muçulmano.

Saddam Hussein não se declara inocente nem culpado

Na audiência de hoje, os seis antigos comandantes declararam-se inocentes das acusações de crimes de guerra, crimes contra a humanidade e genocídio. Já o ex-presidente iraquiano respondeu de forma ambígua. “Você é inocente ou culpado?”, perguntou o o juiz Abdullah al-Amiri. “Isso exigiria livros e mais livros”, respondeu Saddam. Amiri ordenou que ficasse registado que Saddam se considerara inocente.

De acordo com a agência Reuters, o julgamento foi marcado pela postura desafiadora do presidente iraquiano deposto. No início da sessão, Saddam Hussein recusou identificar-se, acusando o juiz presidente do tribunal, Abdallah al-Ameri, de estar ao serviço do “ocupante”, numa referência aos Estados Unidos.

“O meu nome é conhecido pelos iraquianos e pelo mundo inteiro”, afirmou o ex-presidente, antes de se apresentar como “Saddam Hussein, presidente da República do Iraque e Chefe de Estado-Maior das Forças Armadas”.

Saddam ter-se-á revoltado quando denunciaram o caso de mulheres curdas violadas na prisão. “Eu nunca aceitarei uma alegação de que uma mulher iraquiana foi violada enquanto Saddam é presidente”. Como poderia eu andar com a cabeça erguida?”, perguntou.

O processo contra Saddam Hussein e contra os seus ex-colaboradores continua amanhã, no mesmo tribunal onde Saddam passou os últimos meses, a responder às acusações da morte de 148 xiitas em Dujail, na primeira metade da década de 1980.

Carina Branco c/ agências
Foto: Iraqi Special Tribunal