O ex-Presidente da República, Jorge Sampaio, defendeu hoje, sexta-feira, no Porto, que “a democracia está a viver uma crise de confiança”. No encerramento do colóquio “Desigualdades, Desregulação e Riscos na Sociedades Contemporâneas”, promovido pelo departamento de Sociologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Jorge Sampaio afirmou ainda que o Estado não pode resolver todos os problemas dos cidadãos.

“Há áreas em que a intervenção do Estado produz melhores e mais eficazes do que os mercados, mas tenho que reconhecer que o Estado não pode resolver todos os problemas dos cidadãos”, disse Sampaio num encontro que reuniu também o ex-ministro da Justiça Laborinho Lúcio e muitos sociólogos.

O antigo chefe de Estado considera ainda que “a democracia está a viver uma crise de crescimento, confiança e afirmação”. Esta crise, na opinião de Jorge Sampaio, explica-se pelo facto de os cidadãos acreditarem cada vez menos nos políticos, sendo prova disso a fraca participação nos actos eleitorais.

“O desinvestimento dos cidadãos na política traduz-se pela desconfiança nos políticos e na sua capacidade de aplicar políticas eficazes, pela fraca mobilização da vida política por uma participação pouco elevada nas consultas eleitorais”, observou.

Já antes, à entrada para o colóquio, Jorge Sampaio tinha apelado a uma maior intervenção dos cidadãos na vida activa. “As estatísticas mostram que os portugueses são dos que participam menos na vida política, económica e social. São muito individualistas”, afirmou. “Temos que fazer tudo para que a participação e o envolvimento sejam maiores”.

Por isso, o antigo Presidente da República defende que é necessário o reforço do papel regulador do Estado, que tem a obrigação de restabelecer os laços de aproximação com os cidadãos. “O papel do Estado tem de ser melhorado para dar resposta às expectativas dos cidadãos e para restabelecer a sua confiança nos mecanismos da democracia representativa”, apontou.

Sampaio pediu ainda uma renovação dos partidos: “Sem uma renovação das estruturas partidárias, sem uma revitalização dos trabalhos parlamentares, dificilmente se combaterá a crescente marginalização dos governos nacionais e dos seus parlamentos em inúmeras áreas políticas e de regulação significativas”.

Apesar deste “período de mutação e crise”, o ex-chefe de Estado mostrou-se confiante quanto ao futuro, acreditando que o Estado vai conseguir reinventar-se e ir ao encontro das populações.

Texto e foto: João Queiroz
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