“Pure” estreia hoje, sexta-feira, no Teatro Rivoli, no Porto. A peça faz parte de um ciclo de dança moderna organizado pelo Teatro Carlos Alberto e pelo Rivoli, apelidado de “RH x 4 – Rui Horta no Porto”. A mostra de quatro trabalhos de Rui Horta, que começou no início do mês, pretende ilustrar as principais facetas do criador, que comemora 30 anos de carreira.

A peça tem como tema principal “a perda da pureza”. “Quando começamos um projecto ou uma relação vamos perdendo a pureza ao longo do nosso caminho”, explica Rui Horta ao JPN. Mesmo assim, “Pure” é “uma obra positiva”, defende o coreógrafo, que veio trabalhar no Porto a convite da Companhia Instável (CI).

“Foi diferente trabalhar no Porto, no Norte. A Companhia Instável é uma companhia em constante mudança, em que a escolha dos intérpretes é feita pelo criador”, diz. “Pure” é uma coreografia divida em três peças: “Garden”, criada em 1999 para a Nederlands Dans Theater, “Nest”, elaborada em 2003 para a Companhia Norrdans, na Suécia, e “With”, a nova criação de Rui Horta para este espectáculo, criada especialmente para a CI.

As três obras constituem uma unidade, ligadas pela ideia principal de perda da pureza. Os intérpretes são “sete jovens bailarinos com um futuro promissor”, elogia Rui Horta, que começou a dançar aos 17 anos no Ballet Gulbenkian.

“Trabalhar com a CI foi uma boa experiência, tanto para mim como para os bailarinos, que, provavelmente, não poderiam contactar comigo de outra maneira”, refere o coreógrafo, que trabalha em Montemor-o-Novo, onde fundou o Centro de Residência e Pesquisa Multidisciplinar – O Espaço do Tempo.

Balanço “simpático” de percurso artístico

O ciclo “RH x 4 – Rui Horta no Porto” assinala os 30 anos de actividade do coreógrafo, um dos principais impulsionadores do desenvolvimento da dança moderna portuguesa.

“Prefiro dizer 30 anos de percurso, carreira é um termo muito académico”, frisa Rui Horta, que já leccionou em algumas das escolas de dança mais importantes da Europa. “Não tenho objectivos finais e quero continuar a fazer aquilo que gosto. Faço um balanço simpático do meu percurso artístico”.

Profissional experiente, Rui Horta faz um diagnóstico crítico das políticas de apoio à criação artística, particularmente no campo da dança. “Obviamente deveria haver mais apoios à dança e às artes. A profissão do bailarino poderia ser dignificada pelo Ministério do Trabalho”, defende.

Para o criador, a instabilidade legislativa é outra barreira ao desenvolvimento artístico. “Existem leis que possibilitam apoios, mas não há estabilidade. A legislação muda com muita frequência, causando insegurança aos artistas”, lamenta.

Hoje às 21h30, “Pure” sobe ao palco do Teatro Rivoli. O bilhete custa 15 euros, com 50% de desconto para menores de 25 anos, estudantes e maiores de 65 anos.

Alice Barcellos
ljcc05011 @ icicom.up.pt
Foto: DR