Rapto da bebé de Penafiel é um "case study"

Especialistas consideram que é imprescindível o apoio psicológico à raptora. Reintegração na sociedade pode ser dificultada pela opinião pública.

Alice vive agora o drama que se abateu sobre a família da pequena Andreia há um ano. Os especialistas consideram que é necessário que a raptora seja acompanhada, tanto por psicólogos forenses como por psicólogos clínicos.

Carlos Poiares, do Departamento de Psicologia dos Comportamentos Desviantes da Universidade Lusófona, espera que o tribunal decrete também um apoio psicológico à mulher que se encontra agora detida preventivamente para se tentar perceber o “drama que está a viver, porque toda a gente sabe que o significado que a maternidade assume no contexto relacional e na vida das pessoas”.

Para o especialista, numa primeira fase tem que ser feita uma avaliação forense através de uma bateria de testes adequados e tentar perceber quais foram as motivações da melhor. Depois, os psicólogos devem enviar a mulher para um contexto terapêutico, se for esse o caso.

“Esta mulher se não sofreu antes uma perda grave, sofreu agora, porque isto significa o corte de um vínculo que tinha com a criança e põe em causa tudo aquilo que era a relação de mentira em que se fundava desde há três anos, com o companheiro”, sublinha Carlos Poiares

De acordo com Joana Almeida, psicóloga criminal, a mulher precisa de um suporte psicológico que a consiga “fazer sentir o sentimento de culpa”.

Reintegração não será fácil

Alice encontra-se neste momento detida em prisão preventiva na Cadeia de Santa Cruz do Bispo, em Matosinhos, e é acusada do crime de sequestro. O que significa que a mulher poderá ter que cumprir entre dois a dez anos na prisão, a moldura penal para este tipo de crimes.

Joana Almeida considera que a reintegração terá que começar a ser feita cedo porque, acredita, não deverá ser fácil. “O problema não estará tanto nela, mas nas pessoas que estarão à sua volta”, refere a psicóloga, que acrescenta: “Penso que esta mulher está a ser crucificada porque, mais uma vez, nós olhamos para o impacto que o caso tem na opinião pública e não conseguimos perceber como é que ela funciona, quais são os seus traços de personalidade”.

Ainda assim, a psicóloga criminal acredita que, mais tarde, “o lado bom que a mulher conseguiu transparecer à criança pode ser valorizado e facilitar a sua reintegração”.