Espectros, memórias, passado e presente cruzam-se no palco do Teatro do Campo Alegre. Integrada na programação do Festival Dias da Dança, a peça vai ser apresentada a 30 de abril e 1 de maio.

Atsumori

A peça de dança sobe ao palco do Teatro do Campo Alegre a 30 de abril e 1 de maio. Foto: Raquel Pardilhó/JPN

As faíscas, que entram em cena e quebram a escuridão na abertura do espetáculo, escondem e denunciam o quinteto de dançarinos encarapuçados com vestes brancas. O cenário escuro ilumina-se com tons de roxo, azul e branco, projetados a partir do teto e do chão. Assim que as faíscas desaparecem, surge um espetro que sofre uma transformação, com movimentos fantasmagóricos. Seguem-se outros que tentam comunicar entre si.

Catarina Miranda, coreógrafa, constrói uma composição inspirada numa peça de teatro noh japonesa do século XV, que fala sobre o fantasma de uma criança-guerreira, que morreu durante um combate e que procura afirmar a sua condição, enquanto espectro.

A peça integra o programa do Festival Dias da Dança (DDD) – que arranca esta terça-feira no Porto – e logo no início vêm à tona memórias de construções sociais e militares que se repetem ao longo da história. Estas reproduções contínuas surgem no contexto em que ser um espectro ou fantasma é, nas palavras de Catarina Miranda, “tentar voltar sempre ao passado”.

Através de técnicas ancestrais, linguagens futuristas e danças urbanas e contemporâneas, a peça conta a história de um espectro que se assume enquanto tal. Ao longo do espetáculo, cada bailarino vai questionar o corpo e tentar perceber “que corpo é aquele”. Quando, finalmente, completam a fase de aceitação, cada um tenta afirmar-se e ocupar o seu espaço.

Ao som de palmas, sussurros, chamamentos, pés a bater no chão e isqueiros, os cinco seres tentam afastar o mal, enquanto exploram o palco. O fio condutor leva o espectador num percurso que aborda as relações com o mal, o desconhecido e o invisível. No final, o ciclo de repetições fecha e os espectros voltam a vestir os casacos brancos, celebram e desaparecem, “como se fosse um período de celebração de fantasmagorias”.

Estes espectros ganham vida em palco com a interpretação de Cacá Otto Reuss, Hugo Marmelada, Lewis Seivwright, Maria Antunes e Mélanie Ferreira. O desenho de luz é de Joana Mário e Leticia Skrycky e a composição sonora de Lechuga Zafiro.

A peça de dança, com produção da Material Diversos, sobe ao palco do Teatro do Campo Alegre a 30 de abril e 1 de maio. Os bilhetes para as duas sessões, que se vão realizar às 21h30 e às 17h00, respetivamente, já estão disponíveis e o preço varia entre os seis e os 12 euros.

Editado por Inês Pinto Pereira