As companhias de teatro Art’Imagem e Plateia estão satisfeitas com a cedência das instalações do Teatro do Campo Alegre (TCA), no Porto, durante quatro meses às estruturas de produção teatral da cidade. No entanto, dizem, quatro meses é um período exíguo, é necessário definir critérios que não o número de espectadores e o acolhimento do TCA não substitui o papel do Rivoli, que a autarquia entregou à gestão privada.

“É uma boa medida, que espero que tenha sido tomada depois de terem ouvido gente do teatro”, diz ao JPN o director da Art’Imagem, José Leitão, que defende a existência de “critérios claros” para a selecção das peças a apresentar.

O critério da quantidade de público, que será usado no caso de duas companhias pretenderem a mesma data, “por princípio, nem devia ser enumerado” e deverá ser o “último recurso”. “As companhias com mais necessidade de apoio são as de experimentação. Tem que haver espaço para essas companhias”, afirma o encenador.

Para a directora da Plateia – Associação de Profissionais das Artes Cénicas, Ada Pereira da Silva, “nem sempre o melhor para a cidade tem a ver com números”. “De um vereador da Cultura esperaríamos mais do que isso”, remata.

Pouco tempo

É na questão do tempo de utilização que José Leitão e Ada Pereira da Silva se mostram mais cépticos. Para o director da Art’Imagem, 120 dias “é pouco” tempo e mostra que os responsáveis da autarquia “não fazem ideia do que estão a falar” e que desconhecem a realidade teatral.

A responsável da Plateia sublinha ao JPN que, no caso de um espectáculo de estreia, são necessários no mínimo 10 dias de preparação, factor que reduz o tempo real para exibir peças no TCA.

A produtora de teatro considera que a nova política de acolhimento do TCA não é mais do que a implementação de algo que já devia estar em prática há muitos anos, mas que os “preços proibitivos” praticados no equipamento municipal impediam. “Pela primeira vez o TCA está na alçada da cultura”, observa a directora, que denuncia o “desperdício” de recursos públicos no teatro.

Ada Pereira da Silva diz que a nova solução não resolve o “principal problema que existe devido ao furto do Rivoli ao serviço público”: a inexistência de uma “programação nacional e internacional de qualidade”, incluindo produções de novo circo e dança.