A que se deve a crise em que está mergulhado o Norte do país?
Ao centralismo. Lisboa era a capital do império e quando o perdeu, passou a ser capital do que restava dele. E como manteve a estrutura imperial, exerce muito maior poder sobre o território nacional que a exigue. Depois, por força do poder económico: o Porto só tem protagonismo político de facto, quando tem poder económico. Foi assim no século XIX, quando a Revolução Industrial portuguesa ocorreu no Porto e à volta dele, e foi assim a seguir ao 25 de Abril, porque a cidade escapou às nacionalizações. Foram as duas únicas alturas em que o Porto teve peso político e teve-o tanto que teve um grande primeiro-ministro que foi Sá Carneiro.
O crescimento da região teria sido diferente se a regionalização não tivesse falhado em 2001?
Certamente. Hoje em dia não tenho dúvidas. Foi a maior mentira de que eu tenho memória em Portugal: os eleitores que votaram “não” votaram num logro, convencidos que iria haver uma descentralização rápida.
Algumas personalidades do norte têm tentado trazer de novo ao debate o tema da regionalização. Esta é a altura indicada?
Sim, o tema vai voltar a ser debatido, de certeza. É uma questão de tempo.
Defende um novo referendo?
Os dois principais partidos políticos devem retirar a obrigatoriedade de a regionalização ser feita através de referendo. Têm responsabilidades históricas sobre isso e o que têm que fazer é fazer uma alteração constitucional. A regionalização é uma imposição inconstitucional e a determinada altura foi armadilhada. Estar a votar numa normativa constitucional é um disparate.
Está arrependido por ter votado “não” em 2001?
Estou. Se soubesse o que sei hoje, teria votado “sim”.
Votou “não” porque discordava do mapa desenhado. Que divisão propõe?
O mapa das regiões-plano. Se nós para a Europa nos organizamos em função dessas regiões, então o mapa está feito. A primeira coisa a fazer é acabar com a designação de distrito, que a nós não nos diz coisa nenhuma, a não ser aos partidos.
Desta vez a ACP vai assumir alguma posição?
Não sei, é um assunto que temos que debater internamente. Mas não é tradicional que a ACP tome uma posição pró ou contra a regionalização, nem é absolutamente necessário e até pode nem ser conveniente.
Parece-lhe que a região tem aproveitado bem a sua ligação à Galiza, uma região em franco crescimento?
Não sei se estamos a perder uma oportunidade. Estamos é a ver o exemplo de como é que uma região pode funcionar. Um dos aspectos poucos estudados em Portugal sobre a Galiza tem a ver com o seu crescimento nos últimos três anos. Com o “Plan Galicia”, uma indemnização atribuída à região para a compensar dos efeitos do Prestige, calcula-se que tenha crescido 12 pontos percentuais. A vantagem de haver regiões é a capacidade de reivindicação deste género de situações.