Cerca de três quartos dos esquizofrénicos não sofrem recaídas ao fim de três anos, revela o maior estudo europeu sobre a doença, no qual Portugal participou com 175 doentes. O número atesta a eficácia dos tratamentos médicos actuais, diz o coordenador do estudo em Portugal, Marques Teixeira.

São conclusões do estudo SOHO (“Schizophrenic Outpatients Health Outcomes”), realizado em 10 países europeus, com cerca de 11 mil doentes durante três anos de acompanhamento. Estas e outras conclusões serão apresentadas esta sexta e sábado no IV Colóquio Internacional de Esquizofrenia do Porto, em Serralves.

Já se esperava que ter uma vida afectiva e profissional estável fosse benéfico para a remissão da doença. O que não se sabia é que as mulheres recaem menos do que os homens, um dado que “tem que ser estudado em termos científicos”, até porque as taxas de incidência são semelhantes, afirma ao JPN Marques Teixeira, que preside ao colóquio e é professor na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto.

Falta apoio socioeconómico

Em Portugal, 64,4% dos doentes com esquizofrenia vivem dependentes da família. Só 18,6% têm uma relação com um cônjuge ou companheiro, 35% está desempregada ou reformada. 41,5% dos doentes referiu não ter actividades sociais com amigos ou familiares e 60% sofre de disfunção sexual.

Estima-se que a esquizofrenia atinja entre 0,6 e 1% da população portuguesa

Em Portugal, há “camas suficientes”, mas faltam unidades socioclínicas que reúnam as “melhores práticas” em termos de tratamento médico e inclusão socioeconómica. Nesse sentido, Marques Teixeira defende a criação de uma rede comunitária de apoio aos doentes esquizofrénicos e às suas famílias.

A segunda fase de tratamento, que surge depois da intervenção médica inicial (que pode durar apenas 20 dias), é a mais difícil. “Fica mais barato ao Estado criar bolsas de emprego protegido para estes doentes do que pagar os tratamentos das recaídas”, argumenta.

O estudo acompanhou a prática clínica de 30 psiquiatras europeus. No colóquio deverão ser apresentados os tratamentos mais eficazes e os custos económicos da patologia, que se calcula que consuma, a nível europeu, 1,9% do orçamento para a saúde.

A esquizofrenia é uma perturbação mental grave, que se caracteriza por uma ruptura do doente com o mundo real, alucinações, delírios e alterações no funcionamento social e laboral. Estime-se que atinja entre 0,6 e 1% da população portuguesa.