O jornalismo de investigação é, muito provavelmente, uma das principais vítimas da crise que afecta a generalidade da comunicação social. Num tempo de incertezas e de mudança de paradigmas, surgem dois projectos contra a corrente: o francês MediaPart e o norte-americano ProPublica, ambos apostados em novos modelos para sustentar o jornalismo de investigação e independente.

O jornal on-line MediaPart, lançado por Edwy Plenel, antigo director do jornal “Le Monde”, deve arrancar em Março. Tem um modelo de negócio peculiar: recusa a publicidade, habitual sustento das publicações jornalísticas, e é financiado pelos leitores, através de pagamentos mensais (entre cinco e 15 euros).

“As pessoas geralmente não pagam o que lêem na Internet. Vamos ter que fazer conteúdos diferentes e exclusivos. Vamos escrever histórias para leitores muito exigentes”, diz ao JPN Jordan Pouille, de 26 anos, jornalista do MediaPart. Antes de aderir ao projecto, trabalhou como freelancer na China para publicações inglesas e francesas.

Ao contrário de boa parte do jornalismo na Net, o MediaPart vai “tentar não depender de agências noticiosas” e “não entrar neste fluxo interminável de notícias, a todo o minuto, a todo o segundo”. Em três anos, o site, que arranca com um capital inicial de 4 milhões de euros, quer chegar aos 75 mil subscritores.

“É mais baseado na cacha, no exclusivo, em histórias interessantes não condicionadas por agendas políticas”, descreve Pouille. “No MediaPart, vou ter a liberdade para escrever as minhas histórias. Não vou sentir tanta pressão dos editores [sobre os temas das peças, como quando era freelancer]”.

Histórias com “força moral”

A dar os primeiros passos está também o ProPublica. Tal como o projecto francês, dedica-se ao jornalismo de investigação, tem uma redacção e jornalistas fixos (ainda a serem recrutados). Mas, em vez de publicar ela própria as histórias, a redacção, fixada em Nova Iorque, vai distribuí-las, gratuitamente, pelo órgão de comunicação que melhor destino lhes der.

“Este é um tempo muito desafiante para o jornalismo. Este é um projecto muito importante”, diz Tofel

O primeiro trabalho jornalístico pode nascer esta Primavera, estima o general manager Richard Tofel, ao JPN.

Financiado com 10 milhões de euros por ano pela Fundação Sandler e por outras entidades com fins filantrópicos, o ProPublica é chefiado por Herbert Sandler (presidente da fundação) e Paul Steiger, ex-editor do “Wall Street Journal”. O projecto quer ajudar os media a publicarem mais peças de investigação e com “força moral”.

Os 24 repórteres vão concentrar-se em “histórias sobre abusos de poder ou traições à confiança do público”, praticadas por empresas, governos e qualquer instituição que lide com poder, explica Tofel. Reportagens cada vez mais raras, já que “este tipo de jornalismo é caro e os resultados não são certos”.

“Nunca há boas histórias em demasia”

Jordan Pouille, do MediaPart, aponta “o dinheiro, o tempo, a diminuição do número de leitores” e a aposta em “histórias que vendem muito, como a vida pessoal de Sarkozy” como factores para o menor peso do jornalismo de investigação nos nossos dias. “Além disso, os jornais pertencem a grandes empresas com muitos interesses em diversos negócios”, acrescenta.

“Nunca há boas histórias em demasia. Hoje, é difícil para alguns jornais ter recursos para fazer tanto jornalismo de investigação como desejariam. Muitos jornais estão sobre uma pressão económica fortíssima, principalmente devido à mudança tecnológica”, elabora Tofel, destacando a boa reacção dos media ao projecto. “Este é um tempo muito desafiante para o jornalismo. Este é um projecto muito importante”.