A associação Cais levou a cabo, na passada quinta-feira, na Praça D. João I, uma acção de sensibilização destinada a ajudar os sem-abrigo. Desta vez, coube aos membros da associação e aos voluntários a tarefa de vender a revista deste mês, bem como distribuir gratuitamente exemplares mais antigos a quem desconhecia a publicação.
Reposicionar a revista no mercado, dar a conhecer a instituição e os seus projectos, renovar a imagem dos vendedores e aumentar a rede de distribuição da revista, são os principais objectivos que levaram a associação a iniciar uma campanha a nível nacional, que já passou por Coimbra e que chegou ao Porto.
A Cais foi fundada em 1994 e é uma associação de solidariedade social sem fins lucrativos. A revista surge como uma forma de dar ao sem-abrigo a sua autonomia financeira e de forma imediata. Cada exemplar custa dois euros e 70% das receitas das vendas revertem para os vendedores.
Sofia Macedo, do departamento de comunicação da associação, vestiu um dos novos coletes identificativos dos vendedores e distribuiu revistas, sobretudo as gratuitas, ainda que, por vezes, algumas pessoas recusassem a oferta. “Em Coimbra correu muito bem, a aceitação foi muito boa, sobretudo porque se trata de um público diferente, mais jovem. Aqui as pessoas parecem mais desconfiadas”, disse a voluntária ao JPN.
A desconfiança surge ainda vinculada à ideia de ligação do sem-abrigo com a droga. Raquel Guimarães, uma das voluntárias presentes na venda da revista, admite que outro tipo de campanhas possa ter mais receptividade, pois “ainda há o estereótipo de que os sem-abrigo são toxicodependentes ou que não querem trabalhar”. Exemplo disso é Rosa Maria, uma popular que admitiu ser compradora habitual por saber “que é para ajudar os toxicodependentes”, disse.
Sofia Macedo admite que “há alguns anos os sem-abrigo eram realmente na sua maioria toxicodependentes, mas hoje há muitos imigrantes, pobres, e desempregados de longa duração na rua”, acrescentando que “a Cais não é uma associação para apoiar os toxicodependentes, mas sim todos aqueles que estão na rua”, esclareceu.
Uma revista diferente
Henrique Pinto, director da revista e membro da associação, refere que um dos objectivos da campanha é “dizer ao público que o conteúdo [da revista] é único, diferente do que se encontra nas restantes publicações e que vale a pena”.
A revista contém ensaios sobre vários temas entre os quais a filosofia ou o ambiente e aposta na fotografia de qualidade. O próximo número vai sofrer uma renovação editorial, adicionando temas como, por exemplo, a educação. O comprador-tipo da publicação possui, de acordo com Henrique Pinto, “uma cultura média-alta, é conhecedor do projecto e sente a responsabilidade social” inerente à cidadania.
Henrique Pinto referiu que o Estado e o poder local dão um “pequeno apoio financeiro” para custear a produção da revista, mas a associação passa uma situação dificil. “Só no ano passado tivemos um saldo negativo de 107 mil euros”, lamentou o director.
A associação, porém, vai além da revista. Sílvia Azevedo, responsável pelo Centro Cais do Porto, enumerou várias características que vão desde a atribuição de competências sociais e profissionais a quem procura a instituição até acompanhamento político-social e jurídico.
De acordo com Henrique Pinto, depois de Coimbra e Porto, a campanha vai passar ainda por Évora, Faro, Lisboa, Braga e Beja.