O segundo ciclo de debates sobre o Bolhão, que se realizou no Orfeão do Porto na passada quinta-feira, não contou com a presença de Rui Moreira, como estava previsto, mas sim com a de João Teixeira Lopes, sociólogo e membro do Bloco de Esquerda. O debate, que foi moderado pela jornalista Ana Caridade, teve como tema central a perda da memória e identidade da cidade, com a venda dos espaços públicos a privados.

O ciclo de debates começou com uma crítica de João Teixeira Lopes ao editorial da revista camarária “Porto Sempre” (em PDF), no qual Rui Rio diz que “o Porto pode ser mais uma vez um exemplo para o país”. “Porque está a fazer melhor e mais barato”, referindo-se à concessão a privados de edifícios municipais.

O sociólogo disse que o presidente da câmara do Porto está a afastar a população mais carenciada da cidade. “O Bolhão é um espaço público, logo temos de arranjar outras formas de revitalizar o espaço”, afirmou.

João Teixeira Lopes explicou que “os pobres não entram nos centros comerciais, pois são espaços de mistura caótica de culturas, ou seja, um urbanismo ficcional”. “A destruição do espaço público, como o Bolhão, vai transformar o Porto num centro sem história, uma cidade rasa igual em todo o mundo. Uma cidade feita para não surpreender, que não dá para socializar”, reafirmou.

O sociólogo convidado para segundo ciclo de debates afirmou ainda que “a empresa que está agora com a concessão do Bolhão é duvidosa” e que “a câmara fez um concurso que se aproxima muito da fraude”.

A escritora Regina Magalhães considerou que a câmara não está “sensível para a causa do Bolhão”. “Mesmo que essa voz grite muito alto, eles tapam os ouvidos”. Segundo a escritora, a Câmara Municipal do Porto tem “uma atitude muito populista e o populismo é a forma máxima de desprezo do povo.”

A escritora disse que as pessoas têm de estar mais “disponíveis a dar o corpo ao manifesto, para proibir a expropriação do espaço público, que se dá todos os dias”. “Não chega colocar o nome na petição, tem de haver uma postura mais retroactiva das pessoas”, afirmou. Teixeira Lopes considerou que “a desobediência é uma reacção democrática legal, contra aquilo que foge às regras da democracia”.

Uma mensagem que chega a toda a Europa

O segundo ciclo de debates sobre o Bolhão contou com a presença de um arquitecto italiano, professor na Faculdade de Arquitectura Ludovico Quaroni da Universidade de Roma La Sapienza, Luigi Corvaja.

Corvaja disse ao JPN que quando soube que a Câmara Municipal do Porto tinha a intenção de demolir o Mercado do Bolhão ficou “emocionado com a destruição da memória”.

O arquitecto italiano soube do ciclo de conferências através de uma mensagem de correio electrónico que “percorreu toda a Europa e sensibilizou muitas pessoas para esta causa”.

“Na universidade onde lecciono, ensino aos meus alunos a preservação da memória para um futuro melhor. O Homem é o único ser que funda as suas acções sobre a memória, toda a Itália é fundada sobre a memória dos lugares e da arquitectura”, afirmou Luigi Corvaja, que defende a posição da Plataforma Cívica sobre o Bolhão.

Referendo sobre a situação do Bolhão

“O referendo é uma forma activa e pró-activa de mobilizar as pessoas”, salientou José Maria Silva, vice-presidente do Orfeão do Porto, defendendo a necessidade de se realizar uma consulta pública local sobre o futuro do Mercado do Bolhão.

José Maria Silva explicou que a Plataforma quer “avançar rapidamente” para o referendo e acredita que o assunto será discutido na “conferência cívica prevista para finais de Maio”.