Morreu o artista norte-americano Robert Rauschenberg, um dos maiores nomes da arte do século XX. O artista, cuja obra adoptou vários formatos (da pintura à dança) e empregou vários materiais, muitos deles do dia-a-dia, faleceu segunda-feira, anunciou a galeria PaceWildenstein, de Nova Iorque.

Jasper Johns, com quem teve uma relação amorosa e profissional, disse um dia que nenhum artista americano tinha inventado tanto como Rauschenberg, que foi ao mesmo tempo pintor, fotógrafo, escultor, compositor, entre outros ofícios.

“Foi um artista que deu um contributo valorosíssimo para a arte contemporânea, quer através do uso de materiais pouco estimados e olhados, recursos e expressões, quer através da sua capacidade de manipulação”, comentou ao JPN Francisco Laranjo, presidente do conselho científico da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto.

Entre Outubro de 2007 e Março último, o Museu de Serralves, no Porto, acolheu a mostra “Robert Rauschenberg: Viagem- 70-76“), que na semana passada foi inaugurada em Munique, Alemanha, de onde seguirá para Nápoles, Itália. Com 120 mil visitantes, foi a segunda mostra mais vista em Serralves, depois de Paula Rego.

Beleza nos objectos

Rauschenberg nasceu a 22 de Outubro de 1925, em Port Arthur, no Texas. Estudou farmacologia na Universidade do Texas, mas durante o seu serviço na Marinha durante a II Guerra Mundial decidiu que queria estudar arte. Passou por algumas escolas e, em 1948, começou a frequentar o Black Mountain College na Carolina do Norte.

Aí ficaria amigo de nomes fundamentais da arte do século XX como Merce Cunningham, John Cage e David Tudor. Foi também nessa escola que participou naquele que é considerado o primeiro happening, da autoria de Cage. “Fundiam arte, dança, música, poesia… Tudo isso virá a reflectir-se na vida de Rauschenberg, numa necessidade muito grande de colaborar”, diz Óscar Faria, crítico de arte do “Público”, para quem o “maior contributo dele foi tentar esbater as fronteiras disciplinares”.

Depois de se dedicar a experiências com a fotografia e com pinturas minimalistas com uma só cor, por volta de 1953 Rauschenberg faz os seus primeiros trabalhos combinados, que juntam pintura e objectos como pneus, camas e animais empalhados. Foi nesta década que se tornou popular, com obras como Bed (1955) – Rauschenberg atirou tinta para uma almofada, um lençol e um edredão, num estilo semelhante ao expressionismo abstracto de Jackson Pollock.

“Tenho pena das pessoas que pensam que as coisas como os pratos da sopa, espelhos ou garrafas de Coca-Cola são feias porque estão cercadas por coisas dessas todos os dias, o que deve fazer delas miseráveis”, disse Rauschenberg.

Da fama à reclusão

Na década de 60, destacam-se a visita ao ateliê de Andy Warhol, onde descobre a serigrafia – técnica que lhe permite transferir fotografias e imagens para as suas peças -, a sua primeira retrospectiva, no Jewish Museum, com apenas 37 anos, e um ano depois, a atribuição do Grande Prémio de Pintura da Bienal de Veneza, pela primeira vez entregue a um artista norte-americano.

Em 1970, esconde-se da celebridade que atingira, mudando-se para a ilha de Captiva, na Flórida, onde trabalha num estúdio de grandes dimensões. São do período 1970-1976, pouco conhecido do grande público até então, as obras que mostrou em Serralves. Nesta fase, o artista aplica materiais como o cartão (símbolo do capitalismo, presente até na remota ilha de Captiva) e o tecido (onde imprimia imagens retiradas de jornais, por exemplo).

Na década de 1990, cria uma fundação com o seu nome, que apoia projectos na área da saúde, educação, ambiente, pobreza e artes. Em 2004, venceu o Leão de Ouro na Bienal de Veneza.