A seis anos de celebrar um século de existência, o Theatro Circo é hoje um edifício de renome que orgulha a cidade de Braga. Aquando da sua fundação, existia na cidade somente o São Geraldo, o único espaço onde o teatro, o cinema e outros espectáculos subiam ao palco. Contudo, as grandes companhias de teatro não podiam apresentar em Braga as suas produções uma vez que o teatro possuía apenas uma sala. Alterar esta realidade foi, portanto, um dos objectivos das obras de restauração que se iniciaram em 1999.

“Este era um grande edifício com uma sala principal e única com 1000 lugares e não aguentaria uma programação em que o teatro abrisse diariamente. E por isso era necessário descobrir no programa de obras algo que complementasse o existente. E assim se delineou um projecto que não é apenas um projecto de restauro, mas também de reestruturação espacial”, explica Rui Madeira, administrador executivo.

Criar melhores condições de segurança e dotar o Theatro Circo de oficinas, maquinaria e armazéns foram outros dos grandes objectivos das obras que terminaram em 2006. A decisão foi tomada pelo Executivo Autárquico, no seguimento de um protocolo estabelecido entre a Câmara Municipal de Braga e o Ministério da Cultura.

Salas esgotadas apesar da “perda de uma geração”

Com a oferta de melhores condições, não só ao nível da segurança como da produção artística, os números do Theatro Circo subiram de forma significativa após a reabertura, a 27 de Outubro de 2006. “Penso que o público confrontou-se com o Theatro Circo como se confronta com qualquer Dolce Vita ou Braga Shopping acabado de estrear e aderiu em massa”, declara Rui Madeira.

Durante os oito anos em que esteve fechado, Rui Madeira reconhece que o Theatro Circo ficou a perder porque “houve uma geração que não veio ao Theatro”. Actualmente, “isto não é um oásis, mas digo que comparativamente aos números de outras cidades com equipamentos idênticos, temos números relativamente importantes”, revela o administrador.

Em termos artísticos, as mudanças continuaram a fidelizar um público que continua a ir ao teatro. “Grande parte dos nossos espectáculos ficam esgotados, nomeadamente aqueles que vão para além da música, como a dança, o teatro e outras artes de palco. E o público que já tinha uma longa tradição de ligação ao teatro não perdeu esse reconhecimento de que este é um projecto muito valioso para a cidade”, considera Paulo Brandão, director artístico do Theatro Circo.

Theatro Circo “ajuda arrumadores de carros”

No entanto, a crise instalada em Portugal acaba sempre por afectar o ideal funcionamento do Theatro Circo de Braga. Para Rui Madeira, os apoios financeiros ajudariam o Theatro a trabalhar melhor. “Precisamos de dinheiro para fazer cantar os cegos e dar mais possibilidades aos arrumadores de ganharem uns tostões porque vêm mais pessoas ao teatro e eles arrumavam mais carros”, ironiza.

“Nesta altura a crise traz alguns reflexos a nível do orçamento para a programação. Digamos que é o orçamento possível, mas não é o orçamento desejável”, afirma Paulo brandão. O director artístico encontra ainda outros aspectos que devem ser melhorados, nomeadamente “nos serviços de atendimento ao público, de informação e de divulgação das actividades que vamos fazendo”.

Ser programador de um teatro com mais de cem anos de existência é, para Paulo Brandão, “um pouco parecido com quando vamos habitar uma casa antiga, há uma alma, há qualquer coisa na estrutura que nós temos que respeitar, conhecer e perceber o que foi, em que cidade está e como é que se foi desenvolvendo”, remata Paulo Brandão.