Kenneth Anger, um dos grandes nomes do cinema experimental norte-americano, está a ser alvo de uma homenagem, ao longo desta semana, por parte do Museu de Serralves. Na terça-feira, assistiu-se a uma selecção das suas curtas e, já esta quarta-feira, o próprio autor participa num concerto do projecto Technicolor Skull.

Anger, cujo primeiro filme, “Fireworks”, data de 1947, é conhecido por realizar obras experimentais, abordando frequentemente temáticas como o satanismo e a sexualidade. Numa filmografia que influenciou realizadores como Martin Scorsese e David Lynch, destacam-se ainda obras como “Lucifer Rising” e “Invocation Of My Demon Brother”.

A iniciativa de trazer Kenneth Anger a Portugal parte da Galeria Zé dos Bois, em parceria com a Cinemateca Portuguesa e a Fundação Serralves. Ontem, terça-feira, teve lugar uma conferência com o especialista em história das religiões Marco Pasi (à qual Anger não pôde comparecer, sendo substituído pelo director de Serralves, João Fernandes). Já esta quarta-feira, o ciclo é complementado por dois concertos em homenagem ao artista, um do grupo de Anger Technicolor Skull, outro dos Mécanosphere.

Homenagem prossegue em Lisboa

Além dos eventos que decorrem no Museu de Serralves, a vinda de Anger a Portugal prevê ainda a inauguração, esta sexta-feira, em Lisboa, de uma exposição colectiva internacional de artistas inspirados por Anger. No sábado, e também na capital, o realizador tomará mais uma vez o palco como parte dos Technicolor Skull, em mais um concerto colectivo com os Mécanosphere . Para segunda e quinta-feira da próxima semana, estão marcadas duas mostras de filmes do realizador na Cinemateca.

Na conferência de terça-feira – intitulada “Anger Without Tears: The Occult Films Of Kenneth Anger” – Marco Pasi fez uma breve apresentação, centrada na vida de Aleister Crowley, “uma das maiores influencias sobre Anger”.

Mais tarde, o auditório de Serralves encheu para uma mostra de seis curtas metragens de Kenneth Anger. Entre elas estiveram duas das mais recentes obras do realizador: uma que se debruça sobre os quadros de Aleister Crowley, e outra com imagens da Alemanha nazi.

Foi esta, “Ich Will”, que mereceu um comentário mais extenso do próprio Anger, que explicou ter “removido todas as palavras da footage, porque essas palavras meteram o povo alemão em valentes sarilhos”, realçando ainda que a curta começa com um “aviso” retirado da obra “The Tempest”, de Shakespeare.

O “ritual mágico” de Anger

Ao JPN, Natxo Checa, director da Galeria Zé dos Bois, explicou que “não foi fácil” convencer Kenneth Anger a viajar para Portugal: “Anger só faz três viagens por ano” e houve dificuldades “de economia, de requisitos, de organização”.

No entanto, a existência de um “ciclo dedicado” ao autor oi uma “razão forte e oportuna” para Anger se deslocar a Portugal, afirma Checa, notando que, “se todos os artistas fossem tratados assim, provavelmente mais deles apareciam por cá.”

Explicando o que diferencia Kenneth Anger, o director da galeria realça que o realizador “utiliza a película como um lugar ritual” que leva a “todo um outro universo”. Checa nota que Anger cria assim “o ritual mágico por excelência da contemporaneidade.”