Magda quer ser famosa; Lisa espera ver a sua situação financeira solucionada; Já Bruna – como prefere ser tratada – anseia pela operação de mudança de sexo. Motivações que chegam para as três integrarem a Irmandade do Ciclo, aceitarem as sete regras e acatarem um estranho jogo, liderado pela poderosa mestre de cerimónias, que as levará à absolvição e à recompensa desejada.

Informações e programação paralela:

Cem Lamentos” está em cena até 18 de Setembro, na Fábrica Social/Fundação José Rodrigues, com sessões de quarta-feira a sábado, sempre às 22h00. Os bilhetes custam entre cinco e sete euros. No mesmo espaço estão também expostas obras de Ana Pereira, Graça Martins e Mariana Bacelar, numa exposição alusiva ao espectáculo. Este fim-de-semana, de sábado para domingo, a autora Marta Freitas, a encenadora Ana Luena, a psicóloga Gabriela Moita e a artista plástica Mariana Bacelar juntam-se para conversar sobre a “manipulação na arte, nos media, no quotidiano, na vida”. É à 00h30, no Plano B. Os interessados podem ainda inscrever-se no Laboratório de Iniciação à Escrita e Leitura para Cena, dirigido pela autora e pela encenadora, cujo término culmina numa apresentação pública dos textos na FNAC de Santa Catarina.

“Cem Lamentos”, que se estreia hoje, quarta-feira, na Fábrica Social/Fundação José Rodrigues, transporta o espectador para uma espécie de reality show em que todos são julgados. “É uma espécie de Barca do Inferno”, confessa, ao JPN, a encenadora Ana Luena. “É um julgamento espectacular, em que há um mestre de cerimónias, um ser divinal que sabe tudo, que joga com aquelas pessoas e as faz passar por provas.”

No entanto, este “julgamento” também é concretizado pelas próprias personagens, que se avaliam e testam a si próprias. Ao serem expostas a situações limite, todas acabam por descobrir características suas que desconheciam – um pouco à imagem do formato televisivo que tão bem conhecemos.

“Nesses programas vemos as pessoas a serem postas à prova”, compara Ana Luena. “Sujeitam-se, são humilhadas, estão a ser manipuladas e utilizadas.” Por outro lado, há um outro lado, quase espiritual, em que aos participantes é pedido que “acreditem” para alcançarem a absolvição. “É preciso acreditar para se ser feliz e para se procurar um perdão. Há essa neblina.”

O público também é chamado a participar neste julgamento. Pode escolher a sua concorrente favorita e talvez ajudar a decidir. E, numa peça de contrastes, claro que também aqui existe uma ironia, confessa Ana Luena. A audiência sente que “tem poder na vida daquelas pessoas”, mas só porque Magda, Lisa e Bruna põem as suas vidas a descoberto, o que só acentua o lado voyeurista do texto de Marta Freitas, mas também da vida.

É assumida uma permanente dualidade entre o entretenimento e a brutalidade, entre a realidade e a ficção. “Fica a ideia da artificialidade. De que isto funciona sempre”, afirma Ana Luena, sendo que o “isto” pode ser quase tudo.