“Bolonha é total improvisação”, declara Manuel Loff, professor da FLUP e candidato pela CDU à Assembleia da República. “Resulta de um processo totalmente antagónico com o próprio funcionamento interno da faculdade”, continua. Para o professor, o Tratado de Bolonha “nem sequer é um tratado, é uma declaração”, tendo em conta que “não resulta de avaliação nenhuma”. “É uma pura decisão política, apesar de legítima”, acrescenta.

“Bolonha é um projecto europeu que tem por trás objectivos que acabam por colidir com o que é o nosso direito à educação”, defende Rita Rato, deputada do PCP na Assembleia da República.

Em 2007, o Tratado entrou em vigor na Universidade do Porto. No entanto, desde 2003, ano do seu anúncio, que professores e alunos lutavam para que não se reduzissem os anos de formação. Uma força vencida pela “democracia”, diz Manuel Loff, que considera que se “desrespeitou totalmente a autonomia da universidade e se impôs [Bolonha] pela via do não financiamento”, confessa, alegando que “a chantagem funciona com todos”.

Ao longo do debate “Bolonha Fora de Portugal”, que levou a CDU até à FLUP, os deputados alargaram os campos de discussão e abordaram a crescente associação do ensino superior ao empreendedorismo, visto que “Bolonha significou a empresarialização da Universidade”, entende Manuel Loff. Uma opinião à qual Rita Rato se une. A deputada critica o facto de, quando se fala do acesso ao Ensino Superior, se ouça falar pouco de democratização e de acesso ao conhecimento. “Ouvimos falar em empreendedorismo, em receitas próprias e em aumento das propinas”, revela.

“Entende-se a educação como um negócio”, continua a deputada. Rita Rato esclarece que, de acordo com números da Organização Mundial do Comércio, o negócio da educação vale mais do que o mercado automóvel”. É o mesmo que dizer que “cada um de nós pode valer mais do que um Ferrari”, uma situação que se torna “apetecível para quem faz dos direitos um negócio”, considera.

Para os deputados, a circunstância de os órgãos de gestão das escolas terem na sua liderança instituições bancárias com os seus interesses próprios, “arrepia qualquer democrata”, avalia Rita Rato. “São eles que determinam o que é o futuro do Ensino Superior, o que deve ser e para onde devemos caminhar”, justifica. Para a deputada, há que assegurar a igualdade de acesso ao Ensino Superior já que, para muitos, “o acesso é encarado como um luxo”, compara.

Um luxo cada vez mais complicado de suportar e que tem vindo a afastar os jovens das universidades portuguesas. “O futuro do país depende muito da qualificação da juventude”, alerta Honório Novo, deputado pela CDU, ressalvando que é preciso “qualificar recursos humanos para servir a economia mas, sobretudo, para colocar a economia ao serviço do país e do povo”. “É um investimento pessoal mas, sobretudo, um investimento público e colectivo do país”, sublinha Rita Rato. Para os deputados, “só assim andamos para a frente”.