Quando a faculdade começou, “muita gente não acreditava que viesse a ser uma escola válida”, considera Armando Carvalho Homem, muito por culpa “da aura que normalmente se atribui à primeira Faculdade de Letras, uma escola da República, de discussão livre de problemas”. Nascendo a nova faculdade “numa fase muito cinzenta do Estado Novo – num ano em que ao regime tudo aconteceu menos cair -, a conjuntura “não é para grandes reformas universitários”, explica o docente de História, pelo que o sentimento “é de grande cepticismo”.

“Houve questões absolutamente políticas no início da escola”, recorda Carvalho Homem. Abriu-se um concurso para recrutar o corpo docente primitivo, mas “pessoas conotadas com a oposição foram liminarmente excluídas, por decisões do Conselho de Ministros”, como Joel Serrão, Joaquim Barradas de Carvalho e João Bénard da Costa. Apesar de se terem excluído três oposicionistas e de terem entrado, em alguns casos, “pessoas com ligações mais que nítidas ao regime”, o facto é que “a maior parte destas pessoas fez escola” dentro da FLUP e funcionou “profissionalmente”.

À medida que os cursos caminharam do primeiro ano para os seguiuntes e que “saíram” os primeiros licenciados, sempre que eram necessários novos assistentes, recrutavam-se, quase sem excepção, recém-licenciados pela FLUP. Tal prática representou, para Carvalho Homem, “um salto em frente a partir de 1968, um rejuvenescimento e uma modernização” da instituição.

Armando Carvalho Homem, que entrou para o curso de História em 1968, recorda as “referências bibliográficas, em cadeiras, que iam de nomes neutros a nomes desconotadíssimos com o regime – para não dizer explicitamente oposicionistas em relação a ele”, algo que nas escolas congéneres não acontecia com tal intensidade. A FLUP oferecia, aos seus estudantes, “um ensino válido, actualizado e com muito menos preconceitos ideológicos, o que surpreendeu muita gente”. Em 1972, Letras tornou-se na faculdade mais populosa de toda a Universidade do Porto, muito graças à “multidão, acentuadamente feminina, que entrou para Filologia Germânica”.

“O 25 de Abril não constitui uma modificação por aí além”, reflecte Carvalho Homem, que apelida o que aconteceu na FLUP de “ruptura controlada”. A recruta de uma categoria que vinha “das reformas de Veiga Simão”, os monitores, também contribuiu para o rejuvenescimento do corpo docente. Os monitores eram “alunos dos dois últimos anos bem classificados, dos quais se esperava uma boa tese de licenciatura, e que pudesses vir a ser futuros assistentes”. Armando Carvalho Homem e Maria de Fátima Marinho, actual directora da instituição, foram monitores.