Frederico Mendes Oliveira é jornalista e pivô da TVI. O apresentador do “Diário da Manhã” é natural de Rio Tinto, Gondomar. Ainda estudante, estagiou na TSF, mas foi a televisão que acabou por o “prender”. Depois de um estágio na TVI, foi convidado a participar na TVI24, de onde passou para as notícias da manhã. Formado na Escola Superior de Jornalismo, de onde saiu em 2003, Frederico Mendes Oliveira acredita que os cursos de Jornalismo deveriam ter menos vagas e defende que considerar a TVI sensacionalista é um “cliché”.

O que poderia ser feito para melhor a qualidade do jornalismo em Portugal?

Para já acho que não deviam sair tantos jornalistas [das faculdades], todos os anos. O mercado, neste momento, está completamente fechado. As empresas estão a fechar, estão a dispensar jornalistas. Talvez se houvesse menos licenciados ajudasse a melhorar um pouco a qualidade.

Sendo assim, o que recomenda aos jovens que querem seguir jornalismo?

Que pensem muito bem se é isto que querem fazer. Eu compreendo, porque também quis ser jornalista, mas é uma profissão desgastante. As pessoas têm que estar preparadas para mudar a vida completamente. E falo por mim, que estagiei durante um ano em duas estações e tive duas folgas. Hoje em dia, os jornalistas estagiários chegam e querem entrar às nove e sair às cinco. Impossível! No jornalismo isso não acontece, porque uma notícia pode acontecer à meia-noite e temos que estar completamente disponíveis. As pessoas têm mesmo que gostar de jornalismo e estar preparadas para muitos sacrifícios.

O jornalista já deixou de ser aquela pessoa que só escreve notícias. É importante que as pessoas compreendam que o jornalista, neste momento, é alguém polivalente, que exerce várias funções?

Em Portugal, a questão de ser possível dar, ou não, opinião é uma questão tabu. A função primordial do jornalismo, aquilo que aprendemos na escola, é que o jornalista deve transmitir as notícias sem grandes rodeios. Então dá-se a questão se o jornalista pode ou não emitir uma opinião. Eu acho que é impossível um jornalista não emitir opinião. Afinal de contas, somos pessoas como as outras. É impossível ver uma notícia sobre uma cena de violência e não achar que aquilo está errado.

Sim, mas o jornalista, atualmente, também tem que saber recolher som, imagem, editar…

Ah! Sim, é fundamental. Neste momento só estou como pivô, portanto, infelizmente, não vou para a rua fazer reportagem. Cada vez mais, se saíres em reportagem, vês que o jornalista filma, faz as perguntas e chega à redação e edita. Portanto, quanto mais valências a pessoa tiver, melhor.

A televisão continua a ser um meio privilegiado? Até que ponto ainda acredita no poder da imagem?

É mais privilegiado exatamente porque tem imagem e porque chega mais facilmente às pessoas. Costuma-se dizer que a rádio conta, a televisão mostra e o jornal explica. A televisão tem uma força que os outros órgãos de comunicação social nunca vão ter. Infelizmente, as pessoas estão a perder o hábito de ler os jornais e cada vez mais utilizam a Internet. Mas a televisão vai continuar a ser sempre a televisão.

As pessoas vêem notícias na televisão?

Eu acho que as pessoas têm o hábito de, às 13h00 e às 20h00, picarem os canais, mas penso que não vêem notícias com muita atenção. As pessoas têm noção que há aí uma troika e um FMI mas ainda não se mentalizaram muito bem daquilo que se está a passar. Ainda só ligam a notícias de “faca na liga” ou crimes. Aí sim, as pessoas dão a verdadeira atenção.

Em relação a isso, a TVI é muitas vezes considerada sensacionalista…

Isso realmente aconteceu. Eu entrei para a TVI exatamente nessa fase de “faca na liga”, de sangue, do crime. Mas acho que isso é um cliché. As pessoas colaram-se a essa imagem e eu sei que vai demorar a descolar, mas que já não corresponde à verdade.

Mas a conjugação dessas notícias ditas sensacionalistas com a cor e a imagem, não pode ser considerada…

É uma estratégia, sem dúvida.

Para agradar ao público?

Sim. Mas isto não há que ter vergonha de dizer. A RTP é um órgão de comunicação social do Estado, serve quem serve, tem os objetivos que tem. E a SIC e a TVI são estações privadas, pelo que o objetivo principal é ganhar dinheiro. A TVI tem um público muito específico:a classe média-baixa. Não há que ter vergonha de ser assim e admitir esta identidade. Mas acho que essa imagem do sensacionalismo já passou. Aliás, se virmos neste momento o tipo de informação que passa na RTP, SIC e TVI, as notícias são todas as mesmas.