Como vencedor do prémio literário e como representante de todos os escritores, Rubem Fonseca falou de pé, por ser “uma pessoa peripatética” que não consegue falar parado. Elogiou o poeta maior [Luís de Camões] e disse “amar a língua portuguesa”. Disse, até, Camões, mais precisamente o soneto “Busque amor novas artes, novo engenho”.
Também Eduardo Lourenço, o ensaísta homenageado na Revista Correntes d’Escritas 11, salientou, de Camões, a permanente consciência de dizer “o que precisamos para não sucumbir à tentação do pessimismo que invade páginas” num velho país onde “os tempos não são famosos” e há “grande desesperança e dúvida”.
A conferência de abertura esteve a cargo de Manuel Clemente, distinguido em 2009 com o Prémio Pessoa. O Bispo do Porto citou a sua própria “corrente descrita” com base em palavras como “agradecer, começar, partir, consistir e coexistir”, pelas quais traçou o perfil do devir português. Na “pouca terra para nascer e muita terra para morrer” que tem caracterizado o português historicamente, D. Manuel Clemente encontra hoje uma outra forma de ficar e partir, onde o longe é mais perto e menos vitimado pelos contrastes.
O risco total
Com o tema “A escrita é um risco total” arrancou a 1.ª mesa. Sob moderação de José Carlos de Vasconcelos, diretor do “Jornal de Letras”, Eduardo Lourenço, Hélia Correia, Almeida Faria, Ana Paula Tavares e Rubem Fonseca exploraram “o sonho de dizer a totalidade que é a forma escrita”, nas palavras de Eduardo Lourenço, que pode ser uma “cidade cheia de luzes ou um cemitério de sombras”.
Para Rubem Fonseca, os escritores são “obrigatoriamente loucos”. Também condecorado pelo secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas, com a Medalha de Mérito Cultural, o escritor pensa a loucura como característica inalienável à qual juntou a alfabetização e a motivação. Destacou a paciência imprescindível ao escritor para encontrar a palavra certa e a imaginação como mãe da prosa, da poesia e até da própria história.
Foi a primeira de sete mesas que terão lugar até ao próximo sábado, no Auditório Municipal da Póvoa de Varzim. As Correntes d’Escritas continuaram com a inauguração da exposição de fotografia “Aproximações”, de Jorge Barros, e com o lançamento de livros. A performance teatral, Alex Drástico, com Walter Lemos e uma sessão de poesia, com poetas convidados, concluíram o primeiro de três dias dedicados a quem encontra a vida pela escrita.