A Associação Cultural Terra na Boca continua com o seu projeto Bairro das Artes Circuit, que quer tornar a zona envolvente à rua Miguel Bombarda mais parecida com um bairro, em termos de cooperação entre moradores e lojistas, para atrair mais visitantes. Numa conferência de imprensa que decorreu ontem, terça-feira, no Museu Nacional Soares dos Reis (MNSR), a organização apresentou o projeto, fez o balanço dos três meses de atividades e falou das dificuldades que atravessam.
Projeto procura aderentes
Quem tiver um projeto na zona da Miguel Bombarda ou circundante e se quiser juntar ao Bairro das Artes Circuit, só tem que contactar a Associação Cultural Terra na Boca e pagar uma quota mensal de 20 euros. Quem apenas quiser ajudar a associação também o pode fazer, tornando-se “amigo” e pagando uma quota anual de 50 euros.
“Somos uma associação sem qualquer tipo de apoio que resiste”. É assim que Luciano Amarelo, o coordenador do projeto, apresenta a Terra na Boca. A iniciativa contava, no início de março, com cerca de 30 aderentes. Atualmente, são cerca de 50 os comerciantes da zona que contribuem para manter viva a programação, que envolve atividades como workshops, aulas ou concertos.
Quem adere paga uma quota e, em troca, tem o seu nome impresso no mapa da zona, com a programação. Os aderentes acolhem os diversos eventos que dinamizam a área, e que tentam incluir os moradores que muitas vezes se sentem “desligados” da cena cultural envolvente. “A arte é para todos, é isso que eu quero provar”, reitera o coordenador.
O coordenador acha que esta iniciativa “é a resposta à crise”. No entanto, o próprio projeto está em causa, pois o número de aderentes não é suficiente: seria preciso o dobro. Ninguém desistiu até agora, mas há lojas que fecham e quem afirme não se poder juntar por não ter dinheiro.
Projeto continua sem apoios
O Bairro das Artes Circuit, desde que começou em janeiro, não tem qualquer apoio da Câmara Municipal do Porto (CMP), com a qual foram feitos diversos contactos. Até agora, não obtiveram nenhuma resposta e a iniciativa foi reencaminhada para outras entidades. Todavia, o grupo vai ter uma reunião com a Direção Municipal da Cultura da CMP no final desta semana.
Se a situação não mudar, Luciano Amarelo diz que vai ter que “repensar o projeto”, pois não pode “viver do ar”, já que as receitas que recebem dos aderentes são usadas para investir no circuito. Por isso, não há garantia da continuidade do projeto a médio prazo.
Para além de apoios ou patrocínios, o grupo pretende incluir o circuito no mapa oficial de turismo e mudar a denominação de “zona das galerias de arte para “bairro das artes”. Outra das ideias para o futuro passa pela impressão de um mapa bilingue.
Uma visita guiada ao Bairro das Artes Circuit
Após a conferência de imprensa, o JPN acompanhou o coordenador do grupo, que mostrou aos presentes parte do circuito e os levou a falar com os lojistas aderentes. Após sair do MNSR, a rota começou pela Rua do Rosário, onde o coordenador falou do lado simbólico e metafórico do circuito. É como se houvesse “muralhas e castelo, para defender da peste, exterior e interior”, explica.
A primeira paragem é na Portucraft, onde Paulo Silva apresenta a sua loja de produtos tradicionais portugueses, que poderá vir a ser incluída num futuro circuito “do que se faz de melhor em Portugal”, inserido no circuito principal e onde se pretende que haja uma colaboração entre lojas semelhantes.
No espaço seguinte, o grupo é recebido com um “entrem, a casa é vossa”. Trata-se de um espaço de decoração, onde Luís Cerqueira explica que, pelo facto de morar e trabalhar na zona, já está “integrado” no “bairro”. Um dos aspetos que lhe interessa no projeto é descobrir a história da zona, e conta que não sabia da existência de uma “ilha” praticamente em frente do seu espaço. Este aderente conta, também, que começa “a ver pessoas com o mapa do Bairro das Artes Circuit”.
Já na rua Miguel Bombarda, a rota passa pela Miau Frou Frou, uma loja de roupa personalizável. Ao som dos The Cure, o coordenador explica que a loja já recebeu uma exposição do Contagiarte. Além destas colaborações entre espaços, pretende-se um apelo ao consumo local, através de futuros descontos para aderentes, por exemplo.
No espaço Entre Linhas, de arquitetura e design, os mentores dizem que lhes agrada a ideia de “equipas multidisciplinares”, no seguimento da ideia da colaboração entre aderentes. Apesar da zona ser conhecida pelas suas galerias, Luciano Amarelo conta que estas “são o público mais difícil” de atrair para o projeto e só têm a colaboração de duas.
A rota termina na Casa Moura, de mobiliário e decoração. É lá que José Humberto abre as portas para um dos maiores espaços verdes existentes no quarteirão, que até agora estava fechado ao público. O “jardim é para usufruir e os frutos também”, garante Luciano Amarelo. Isto porque há tangerinas e limões que o coordenador convida o grupo a colher. A comercialização de uma limonada com a marca da Casa Moura quer-se para breve.