Oficialmente este foi o sexto dia de Fantasporto, mas se contarmos com a semana pré-festival, já vamos em dez dias de cinema internacional na Invicta. As contas ainda não estão feitas, mas a adesão parece corresponder às expectativas – quer com uma composta plateia portuguesa quer com vários estrangeiros curiosos. Esta terça-feira, por exemplo, ficaram poucas cadeiras por ocupar no Grande Auditório.

Depois de “Aglaja” (de Krisztina Déak) e “AKP Job 27” (de Michael L. Suan), foi o britânico “The Deep Blue Sea” (2011) o filme que inaugurou as sessões da noite de 5 de março. A obra de Terence Davies retrata o romance destrutivo de Hester Collyer, interpretada por Rachel Weisz, e Freddie Page, por Tom Hiddleston.

1. Prémios

Pela sua performance em “The Deep Blue Sea”, Rachel Weisz venceu o prémio de Melhor Atriz, em 2012, no Círculo de Críticos de Cinema de Nova Iorque. O mesmo aconteceu no Toronto Film Critics Association. Em dezembro do mesmo ano, foi ainda nomeada para Melhor Atriz num filme dramático na 70.ª edição dos Globos de Ouro. A atriz é ainda detentora de um óscar, pela sua personagem em “O Fiel Jardineiro”.

Apesar de ser casada com um juíz, Hester envolve-se num relacionamento com o espirituoso e galante piloto da Royal Air Force. Mas aquilo a que chamam de amor – a relação parece sustentada apenas pela atração sexual e uma ligação emocional desigual – não passa de um relacionamento desconcertado e inconstante, com ele a ser cruel e impaciente e ela submissa e obsessiva.

Durante os meses em que estão juntos, ambos são imbuídos num mundo obscuro e depressivo – com a eminência do suicídio de Hester e a culpa de Freddie -, reforçado pelos planos escuros – muitas vezes, a roçar o negro – e a música dramática do início ao fim.

Os laivos de humor e de luz, que mostram a personalidade forte e mordaz que Hester tivera outrora (no início da relação de ambos), conseguiram ainda arrancar algumas gargalhadas tímidas e quebrar o cenário de tensão. “The Deep Blue Sea” cumpre o objetivo, principalmente pela interpretação de Rachel Weisz (ver caixa 1) mas fica, de certa forma, aquém das expectativas. As “viagens no tempo”, por exemplo, são um dos elementos menos bem conseguidos.

A mitologia escandinava conquistou a plateia, apesar da hora tardia

Mas o cinema continuou noite dentro, com “Thale” a conquistar o privilégio de ser apresentado pela própria protagonista, Silje Reinåmo. O enredo do norueguês Aleksandre Nordaas baseia-se na mitologia escandinava e conta a história de uma huldra, um ser místico com a aparência de uma bela mulher… que esconde uma cauda e poderes sobrenaturais.

2. “Thale”

O realizador Aleksandre Nordaas dedicou este filme ao avô, que garante “ter visto realmente a Huldra”, explicou a atriz Silje Reinåmo, que depois se ausentou por não conseguir “de todo” ver um filme seu com tanta gente na sala. “É enervante”, disse, ansiosa.

Cativa de um cientista que acaba por morrer e deixá-la trancada na cave, a huldra – que se dá pelo nome de Thale – é encontrada por Elvis e Leo, dois amigos que tratam da limpeza da casa. A amizade que acabam por travar com ela e a tentativa de a ajudar acaba por trazer-lhes problemas mas, como nos verdadeiros contos, “tudo está bem quando acaba bem”.

Os planos arrebatadores a retratar paisagens cheias de luz tipicamente nórdicas – ora florestas cheias de verde ora cinzentas com neve – fizeram o contraste perfeito com o filme anterior. Também as músicas, de inspiração celta, cortaram o drama e até alguma violência, tornando a película agradável e fluída. Menos bons foram os efeitos especiais, que deixam a desejar.

Esta quarta-feira há mais para ver com, por exemplo, “The Exam” e “Vanishing Waves”. Mas a maior atração será a visita do cineasta Manoel de Oliveira, em celebração dos 70 anos da estreia do filme Aniki Bóbó, que será exibido pelas 19h15, no Grande Auditório.