“Traficantes de informação” foi a expressão usada por João Tocha para definir algumas das “pessoas que aparecem a dar opiniões”. Em entrevista ao JPN, o consultor político, responsável pela comunicação nas campanhas do antigo Governo de José Sócrates, questiona a existência e a legitimidade para criticar “essa promiscuidade”. Afirma, no entanto, que “são muito poucos os comentadores que fazem uma análise distanciada e fria”. Segundo o próprio, a maioria é composta por “meros veiculadores de mensagens”.

“Qualquer comentador tem uma biografia, como qualquer jornalista”, disse Marcelo Rebelo de Sousa ao JPN. O comentador do quarto canal acrescenta, ainda, a inexistência de “comentadores ou jornalistas inodoros, insípidos, sem pré-compreensões doutrinárias e ideológicas. Mesmo que nunca tenham sido políticos”. Salienta, porém, que o comentário “só ganha” com o “distanciamento crítico” relativamente a “convicções religiosas, políticas, económicas, sociais e culturais”.Segundo o próprio, o distanciamento “é essencial para haver comentário e não auto-justificação”.

João Tocha partilha da opinião de Marcelo Rebelo de Sousa. Ao JPN, disse que “as pessoas são fruto do seu passado, presente e meio onde estão; no entanto, o que conta é o exercício da seriedade no comentário”.

Felisbela Lopes, cronista, comentadora e especialista em informação televisiva, nega a “existência de promiscuidade”. Destaca, no entanto, a “carência de especialistas” colmatada pelo “excesso de opinião composta pela classe política e pela classe jornalística”.

A “banalização” do comentário

O crescimento dos órgãos de comunicação social e o aumento da exposição mediática face ao desenvolvimento tecnológico determinaram a amplificação do “fluxo” noticioso. “As televisões precisam de espaços de comentários e recorrem àqueles que estão mais disponíveis, que são os políticos e os jornalistas”, explica Felisbela Lopes.

“A influência dos comentadores é muito inferior àquilo que eles pensam. E a sua multiplicação banaliza essa influência, reduzindo-a, em inúmeros casos, quase a nula”, continua Marcelo Rebelo de Sousa. O comentador da TVI refere ainda casos em que a audiência se apresenta como “diminuta”.

“Jornalistas que querem interferir na ação política e políticos que querem interferir no jornalismo”

Para João Tocha, a ocupação do espaço de comentário por políticos e jornalistas não é um “mal” de agora. “Há jornalistas que querem interferir na ação política e políticos que querem interferir no jornalismo”, refere. Segundo o consultor, “caberá a cada uma das partes traçar uma fronteira” ao seu raio de ação, de acordo com as “suas regras de conduta e ética”.

Para Marcelo Rebelo de Sousa, o exercício da função de comentador acarreta, entre outros, doses elevadas de “trabalho”, “preparação” e “sentido crítico”, e “irreverência”. A “humildade” é, segundo o próprio, essencial: “Nada pior do que achar que se é o centro do mundo. Baixar sempre as expectativas. Já estive nos pícaros. Já deixei de estar. Já recomecei várias vezes. Agora, estou, novamente, numa certa onda ascendente. Mas isso pode acabar de um dia para o outro”, afirma em entrevista ao JPN.

“Os líderes de opinião têm o papel de conduzir pessoas e ajudá-las a formar opinião”

“Aquele que é convidado para os programas âncora de canais generalistas e dos canais temáticos de informação com alguma regularidade”. É assim que Felisbela Lopes define um “líder de opinião”. Como principais requisitos, a especialista enumera a “notoriedade” e a “credibilidade mediática”. O conceito vai de encontro àquilo que João Tocha descreve como “escritor”.

Para o consultor, os “escritores são todas aquelas pessoas que, devido à sua atividade profissional e posição no grupo ou sociedade, ganharam um estatuto em que o seu comportamento ou opinião pode levar outros a segui-los”. Têm, por isso, “o papel de conduzir pessoas e ajudá-las a formar opinião”.

A influência traduz-se, de acordo com Felisbela Lopes, na definição dos “temas sobre os quais as pessoas discutem” e na “marcação do debate público”.