“A componente da encenação é muito importante nas reportagens”, disse Carlos Rico. Este foi um dos momentos que marcou a conferência sobre reportagem de investigação, a última do seminário sobre “Jornalismo Especializado”, decorrida esta terça-feira no pólo de Ciências da Comunicação da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP).
“Um repórter a falar de encenação nas reportagens?”, acrescentou o jornalista da SIC, sublinhando o facto da frase poder ser mal interpretada. Mas neste contexto, a afirmação remete, para as especificidades das grandes reportagens televisivas, em que a “construção da narrativa”, em articulação com a imagem e com o som, assumem um papel preponderante.
“Tem de haver forçosamente uma componente de encenação, o que não quer dizer que se fabrique a realidade. Para contarmos as histórias das pessoas temos muitas vezes que as repetir para a câmara”, explicou Carlos Rico. “A televisão vive de som e de imagem, e é muito ingrata nesse sentido, porque se viermos do terreno sem imagens, não há história”, esclareceu o jornalista.
“Como é que as histórias vêm ter connosco?”
As histórias “vêm ter connosco, desde já, pela observação do mundo”, explicou Carlos Rico. No entanto, uma boa história depende sempre da abordagem adotada pelo jornalista: “As histórias vêm ter connosco de milhentas formas e nós temos que escolher, por um lado, o ângulo de abordagem que nos é mais confortável, mas também aquele que chega melhor e mais facilmente ao nosso público”, afirmou.
Carlos Rico referiu também alguns temas que podem motivar uma grande reportagem, entre os quais, a “atualidade” – que apesar da cobertura diária, é por vezes objeto de um “tratamento jornalístico mais aprofundado – ou ainda “uma realidade local expressiva”, “um grupo social” ou “uma personagem com uma história de vida interessante para contar”.
“Uma fatia da reportagem está ganha na preparação que fazemos”
O jornalista realçou ainda a importância da fase preparatória, que antecede o trabalho de campo nas grandes reportagens. É importante “ler tudo aquilo que já se publicou sobre o assunto: livros, internet, jornais”, explicou.
Conhecer os entrevistados é outro aspeto fundamental, particularmente em jornalismo televisivo: “Gosto sempre de ir sem câmara, conhecer as pessoas primeiro, conversar com elas e conhecer-lhes as expressões”, disse o jornalista da SIC. “A câmara é muito assustadora” e é preciso “quebrar o gelo”.