Receberam um “Insuficiente” – a classificação mais baixa da avaliação da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) – depois de, em 2002 e 2007 terem arrecadado dois “Muito Bom” consecutivos. Em entrevista ao JPN (ver vídeo), João Veloso, coordenador, garante que o trabalho de um dos centros de investigação mais antigos do país (comemora este ano os 38 anos), fundado por Óscar Lopes, não piorou: “Muito pelo contrário”, sublinha.
Os resultados falam por si: apesar de integrar apenas 19 doutorandos, o Centro de Linguística da Universidade do Porto (CLUP) integra cerca de 90 elementos, entre investigadores, professores, alunos de graduação e pós-graduação. Destes, grande parte são estrangeiros, oriundos de países tão diferentes como Brasil ou Senegal. Por fim, foi responsável, nos últimos cinco anos (período em avaliação), por mais de 200 publicações (e ainda três revistas periódicas próprias) e cerca de 70 eventos científicos.
Tudo isto, não contando, por exemplo, com o facto de o CLUP ser “uma parte fundamental no financiamento de deslocações de jovens doutorandos a eventos científicos”, que sem esse apoio “não têm possibilidade de o fazer”. Ou com o facto de o CLUP deter um acervo documental histórico de valor incalculável ou uma das melhores bibliotecas especializadas do Noroeste peninsular.
Falta de financiamento pode acabar com o CLUP – e com a Linguística na Universidade do Porto
A culpa do mau resultado da avaliação do centro – o único especializado no norte – João atribui-a à composição do painel e ao método em si, pouco adequado às Ciências Sociais no geral e ao trabalho do CLUP em particular.
O que aqui está em causa, explica-nos, é não só o financiamento de 53 mil euros (que em 2012, antes dos cortes, era de 74 mil euros) mas o futuro da Linguística na Universidade do Porto (UP), já que o centro não consegue subsistir sem financiamento e a Linguística não consegue subsistir sem o Centro. “Isto não é estar a ser trágico”, garante João Veloso. “Nós nem queremos mais dinheiro. Este valor permite-nos não nos envergonharmos do trabalho que desenvolvemos”, diz. “E isso é o mais importante”.
E vergonha não é, de facto, o sentimento que por ali reina. Chamar-lhe-íamos mais orgulho – ou paixão. Por isso, no CLUP, ninguém cruzará os braços perante a morte anunciada. Em retorno, foi imediatamente apresentada uma contestação formal, foi pedida uma reunião com o presidente da FCT, Miguel Seabra, (que ainda não foi concedida, até à data) e foi colocada a circular uma petição que pretende mostrar o valor que o CLUP tem no meio. Para já, três mil pessoas concordam.
Esta é a primeira de uma série de entrevistas a Centros de Investigação da Universidade do Porto que não conseguiram passar à segunda fase de avaliação da FCT (estando, por isso, em risco de perder o financiamento a partir de janeiro de 2015).