A fila para a sessão de autógrafos com Clive Standen é exemplificativa da expectativa que rodeava o painel do ator, que não desiludiu durante a hora em que esteve à conversa com o público, no último dia da Comic Con Portugal, que, de 5 a 7 de dezembro, animou a Exponor.

Clive Standen interpreta Rollo Lothbrok em “Vikings”, que em 2015 entra na terceira temporada, uma temporada que aponta armas a França depois de duas temporadas de guerras internas e incursões a Inglaterra. “Temos alguns episódios em que vemos os vikings a invadir uma fortaleza impenetrável em Paris”, revelou. “Pusemos a nossa alma nesta terceira temporada e, felizmente, o orçamento aumentou”, disse Clive Standen, que realçou que “Vikings” seguirá o caminho de expansão também na quarta temporada, que diz ser “certa”, embora ainda não exista confirmação oficial.

Standen, que se apaixonou por Sintra, por ter a sensação de “estar na Idade Média”, explicou ainda aos jornalistas que o mais complicado durante a produção da série são as cenas de luta, já que os atores fazem as próprias cenas, sem recorrerem a duplos. “Um ator que não faz as próprias cenas de ação não está a fazer muito bem o seu trabalho”, disse o britânico de 33 anos, que tem em “Vikings” o primeiro papel recorrente numa série televisiva.

Demónios e flechas

Da parte de “Da Vinci’s Demons“, marcaram presença o próprio Leonardo, Tom Riley, além de Blake Ritson, que interpreta Riario, e Elliot Cowan, que incorpora Lorenzo de Medici na série que entra na terceira temporada no próximo ano, uma temporada na qual, nas palavras de Ritson, “ninguém está a salvo”.

Quanto a representar uma figura como Leonardo Da Vinci, Tom Riley reconheceu sentir “o peso” que vem com o papel, mas adiantou também que sente agora “menos pressão”, antes de elogiar o elenco da série. Elliot Cowan destacou a receção com que os atores foram recebidos no Auditório A, com mais de dois milhares de pessoas a gritarem quando os atores entraram. “Não esperava tanta gente, foi uma grande receção”, disse acerca do painel, onde foi ainda apresentado um trailer exclusivo da série.

O dia ficou também marcado pela presença de Paul Blackthorne, da série “Arrow”, que colocou os fãs que o esperavam no Auditório A em apoteose, e que parou para dar autógrafos à saída.

BD com vida difícil

Também para a banda desenhada o cenário não está fácil. André Lima Araújo, que trabalhou para a Marvel e se prepara para editar o primeiro livro em nome próprio, “Man Plus”, disse ao JPN que embora este evento tenha “ajudado a assentar a ideia de que há muitos portugueses a trabalhar nos níveis mais altos” da banda desenhada, os artistas portugueses têm poucas hipóteses com um “mercado pequeno” como o português.

“Nos Estados Unidos o mercado também é pequeno, mas 1% lá não se compara a 1% de Portugal”, explicou o autor que escreveu “Man Plus” “de raiz em inglês”, visto que o projeto vai ser publicado no estrangeiro antes de ser traduzido e publicado em Portugal, um caminho que André vê como a melhor solução para contrariar os efeitos do mercado português, embora reconheça que existem “publicações com muito boa qualidade editadas diretamente em Portugal, embora com tiragens mais pequenas”.

Espaço para portugueses “reduzido”

Além dos cosplayers, dos expositores de tudo um pouco, das várias bancas de jogos de todo o tipo de consolas, domingo foi o dia em que marcaram presença mais demarcada os adeptos de jogos de cartas, como Magic, Pokemon ou Yu-Gi-Oh! e os adeptos de jogos de tabuleiro, com vários torneios e jogos amigáveis a decorrerem na área dedicada.

A presença de vários artistas portugueses, não só criadores de cinema ou videojogos, fez-se notar no Artists Alley, mas também em vários painéis, com destaque para a banda desenhada. Um dos painéis com mais audiência durante o certame deveu-se ao “primeiro filme sobre um superherói português”, acreditam os criadores. “Capitão Falcão”, película sobre um superherói ao serviço do Estado Novo durante os anos de ditadura, deverá estrear “numa data simbólica para o país, no mês de abril” de 2015, revelou João Leitão, realizador do filme.

Em conferência de imprensa, Leitão explicou que é difícil fazer boa televisão em Portugal porque as direções dos canais consideram que o público alvo “são pessoas com mais de 60 anos”, além de ser “muito mais barato produzir várias edições de reality shows” do que investir em séries como Capitão Falcão, que, originalmente, seria composta por um conjunto de oito episódios.

Gonçalo Waddington, que dá corpo ao Capitão, realçou a “dificuldade” de fazer boa televisão em Portugal, até porque “os atores têm de ganhar a vida” e são forçados a fazer programas onde “acabam a fazer figuras de urso”, embora exista “muita gente com qualidade” que é forçada a trabalhar em projetos que não os entusiasmam, ainda que tenham ideias e vontade de participar em outros “com muita qualidade”.

“Os 18 milhões de euros investidos nos direitos da Liga dos Campeões davam para fazer uma série como Capitão Falcão por mês e não eram gastos os 18 milhões”, explicou o ator, que questionou ainda a razão de não se contabilizarem “as visualizações na Internet”. “Séries como ‘Odisseia’, ‘Um Mundo Catita’ ou ‘Último A Sair’ não aparecem todos os anos, são uma falha no sisema, por assim dizer”, explicou João Leitão, acrescentando que “quando isso acontece, então os diretores dizem ‘não podemos deixar que surja outra coisa do género neste canal'”.

A Comic Con Portugal despede-se por agora, mas já tem edições confirmadas até 2018. Apesar de ainda faltar para a próxima edição, João Esteves, 19 anos, já tem uma sugestão: “Aumentar a praça de alimentação e tentar que os expositores façam preços mais baixos”. Já Andreia Outeiro, de 32 anos, aponta a “pouca variedade” fora dos painéis de televisão e cinema. “Falta ainda atrair mais a indústria dos jogos e os artistas de BD portugueses”, completa.