Depois de um ano em grande com a vitória na Volta das Astúrias, no Grande Prémio JN e na Volta a Portugal, Raúl Alarcón, ciclista de 31 anos, natural de Alicante, foi distinguido pelo FC Porto como o melhor atleta do ano.

Nesta entrevista ao JPN, na semana em que recebeu o Dragão de Ouro, o espanhol, que está em conversações com os azuis e brancos para acertar a sua continuidade, acredita que a equipa tem condições para subir de escalão o que poderia resultar na participação numa Grande Volta.

De política, e apesar da conturbada situação que se vive no seu país, prefere não falar. “Nunca gostei da política e não vai ser agora que a vou começar a comentar”, diz-nos. Entrevista ao alicantino que assume que a vitória na Volta a Portugal foi “a corrida mais importante” que já ganhou.

JPN: Ser ciclista sempre foi o seu sonho?
Raúl Alarcón: Sim, a verdade é que desde pequeno estive ligado ao desporto. Comecei no futebol e, com o passar dos anos, fui intercalando o futebol com o ciclismo. Acabei por me apaixonar pelo ciclismo com 11 anos e, bom, aqui estou eu [risos].

JPN: Como chegou a ciclista profissional?
RA: Comecei no Saunier Duval, era uma cantera de uma equipa profissional do World Tour. Estive dois anos na cantera e, depois, em 2007 passei a profissional.

JPN: Como surgiu a possibilidade de vir para a W52-FC Porto?
RA: Eu já estava cá em Portugal há quatro temporadas, desde 2011… E em 2015 surgiu a possibilidade, falámos, eu e o Nuno Ribeiro e ele perguntou-me se estava interessado em vir para cá e eu disse que sim, que gostava de continuar no ciclismo e que a W-52 FC Porto era uma boa equipa e uma boa opção para mim.

JPN: Acredita na subida de divisão da W52-FC Porto a Profissional Continental?
RA: Sim, claro que acredito. Temos gente como eu, o Gustavo, o Vinhas, o Mestre… Temos muitos jovens com qualidade. Este ano, por exemplo, ganhámos a Volta às Astúrias, disputámos provas internacionais. Sim, acho que há qualidade para subir de escalão e, quem sabe, participar numa Volta a Espanha ou outra grande prova.

JPN: Na Volta a Portugal, o Gustavo Veloso era o chefe de fila da equipa mas foi o Raúl a ganhar. Qual foi o momento em que percebeu que ia vencer a Volta?
RA: Na Volta temos de ver o que se passa dia a dia. Como dizes, o Gustavo era o chefe de fila mas eu estava em boas condições, tinha feito um bom ano, ganhei a Volta às Astúrias e o Grande Prémio JN. Cheguei em excelentes condições à prova, mas decidido a trabalhar no que fosse necessário para a equipa. Em Setúbal, cheguei à liderança, na primeira etapa e depois fomos pensando dia a dia. No dia da etapa da Torre [penúltimo dia de prova], um dia esperado por todos, a etapa-rainha, era quando se ia perceber quem ia ficar à frente. O Gustavo teve um mau dia e, no final, fui para a frente [Alarcón e Amaro Antunes, também da W52-FC Porto, chegaram isolados à meta] e, felizmente, conseguimos vencer a Volta a Portugal.

JPN: Este foi o melhor ano da sua carreira?
RA: Sim, sem dúvida. Este foi o melhor ano da minha carreira mas foi porque também tive a confiança da minha equipa e, sobretudo, do meu diretor, do Nuno Ribeiro. No princípio do ano, o Nuno disse-me que tinha de pensar neste ano como líder em provas em Espanha e no Grande Prémio JN, que também acabei por ganhar. A verdade é que tinha de responder a toda essa confiança com vitórias.

JPN: A vitória na Volta foi o mais alto desse melhor ano da sua carreira?
RA: Sim, claro. A Volta a Portugal foi a corrida mais importante que já ganhei. É a prova mais importante para todas as equipas portuguesas e para o calendário português e sim, é a vitória mais importante que tenho na minha carreira.

JPN: O ciclismo é uma das modalidades que mais esforço físico exige aos atletas. Não sente que o ciclismo merecia mais visibilidade?
RA: Além do esforço físico, também fazemos esforços psicológicos extremos. Pouco a pouco, o ciclismo está a voltar a ser valorizado. Vê-se que é um desporto que atrai muito público. Além do futebol, penso que o ciclismo é um dos desportos com mais seguidores.

JPN: No ciclismo, vale mais o individual ou o coletivo?
RA: Eu digo sempre que sem uma equipa é impossível que um corredor vença. A minha vitória foi assim e todas as vitórias são assim. Eu tenho sido um atleta que, por vezes, trabalha para outros e vejo o ciclismo assim. É verdade que se distingue um vencedor mas, por trás, há um grupo com muito trabalho: atletas, staff, massagistas, mecânicos, uma cabeça pensante como é o diretor desportivo… No final entra tudo além do vencedor.

 JPN: Durante a Volta, os ciclistas em Portugal têm uma visibilidade muito maior do que no resto do ano. Como é o dia a dia de um ciclista?
RA: É verdade que a Volta a Portugal dá-nos mais visibilidade por causa das televisões. Em Espanha é igual: há a Volta a Espanha e as outras provas passam despercebidas. Para nós, haja ou não televisão, é igual, trabalhamos da mesma forma. Tentamos sempre levar os nossos patrocinadores o mais alto possível com as nossas vitórias. Haja televisão ou não, temos de dignificar os nossos patrocinadores e levá-los o mais alto possível.

Dragões do Ano 2017
Atleta do Ano: Raúl Alarcón
Futebolista do Ano: Brahimi
Jovem Atleta do Ano: Diogo Dalot
Treinador do Ano: Guillem Cabestany
Atleta de Alta Competição do Ano: Hélder Nunes
Atleta Amador do Ano: Daniel Sánchez
Atleta Revelação do Ano: Wenderson Galeno
Dirigente do Ano: Eurico Pinto e Alípio Jorge Fernandes
Funcionário do Ano: Francisco J. Marques
Sócio do Ano: Artur Santos Silva
Projeto do Ano: App FC Porto
Parceiro do Ano: Banco Carregosa
Casa do FC Porto Nacional: Casa da Póvoa de Lanhoso
Casa do FC Porto Internacional: Casa de Bruxelas
Carreira: José Mário
Recordação do Ano: Américo Lopes

JPN: O caso Lance Armstrong foi só o mais emblemático de muitos que associaram o doping ao ciclismo. Como é, hoje, o controlo aos ciclistas?
RA: O controlo é muito apertado. Nós temos o que se chama um passaporte biológico. Eu tenho o de Portugal e tenho também o Adams, é assim que se chama. Esse passaporte é o da UCI [Union Cycliste Internationale], é o que têm todas as equipas de World Tour. O passaporte biológico trata de nos controlar 24 horas por dia. Temos de dizer onde dormimos e temos uma hora fixa para estar na nossa residência, para nos poderem controlar a qualquer altura porque, mesmo além dessa hora, eles podem aparecer quando quiserem. Temos um controlo muito apertado e muito supervisionado pelas agências antidopagem. As coisas são o que são, são as regras e temos de as aceitar.

JPN: O Raúl gosta de estar em Portugal?
RA: Sim, gosto muito. Já estou há sete temporadas em Portugal e a verdade é que sinto muito o carinho das pessoas, o respeito dos meus colegas, alguns que hoje são adversários e que já foram meus colegas de equipa. Mas fora da competição, somos todos amigos.

JPN: Como cidadão espanhol, como tem acompanhado a situação política da Catalunha?
RA: Muito sinceramente, nunca gostei da política e não vai ser agora que a vou começar a comentar.

JPN: O que significou para si o Dragão de Ouro?
RA: É um prémio importantíssimo, é uma grande honra. Estou muito agradecido por este reconhecimento e por terem pensado em mim para atleta do ano. É um reconhecer de todo o meu esforço e dedicação.

JPN: Vai continuar no FC Porto na próxima época?
RA: Temos falado sobre isso, estou em negociações avançadas. Espero nestes próximos dias e nesta semana decidir o meu futuro.

Artigo editado por Filipa Silva