Pelas 15 horas, o auditório da Escola Secundária Augusto Gomes, em Matosinhos, estava repleto de jovens entre os 14 e 16 anos, ocupados no telemóvel antes da palestra começar. Com o mote “Para seres curtido, não precisas de ter bebido”, o encontro, integrado no projeto “Falar Claro”, dos Cervejeiros de Portugal, propunha-se falar de mitos que envolvem o consumo de álcool.

“Há um estudo que se realiza em 40 países da Europa, de quatro em quatro anos. O último feito em Portugal foi em 2015. Segundo este estudo, 31% dos alunos portugueses já experimentaram bebidas alcoólicas aos 13 anos de idade“, começou por explicar Francisco Gírio, secretário-geral dos Cervejeiros de Portugal. Para o responsável da organização, é importante apostar em programas educacionais dirigidos aos menores e às famílias de forma a combater o consumo de bebidas por menores.

Numa primeira fase do projeto, foi editado o manual “Falar Claro”, da autoria de António Lorena Trigueiros, psiquiatra de infância e adolescência. Foi distribuído a professores, educadores e técnicos que atuam na área.

Para além disso, foi lançado um vídeo pedagógico de animação que foi exibido após o breve discurso inicial de Francisco Gírio.

Também esteve presente o professor Manuel Oliveira, vice-presidente da Associação Nacional dos Professores, parceira do projeto, que sublinhou a importância dos professores terem formação que lhes permita falar com clareza sobre a temática.

Partilha de experiências pessoais

O encontro decorreu de maneira muito informal, sem necessidade de apresentação para ambos os oradores. Foi uma espécie de “tête-à-tête”, classificou Tiago Teotónio Pereira. “Nós não viemos aqui ser hipócritas, falar do álcool como se nunca tivéssemos bebido ou tivéssemos cometido os nossos excessos”, explicou o ator para iniciar a conversa.

Tiago e Diogo Batáguas partilharam várias histórias pessoais relacionadas com álcool, entre elas, a primeira experiência de excesso. Apesar de Tiago não se lembrar da sua história, a de Diogo arrancou sorrisos aos estudantes.

“Eu lembro-me da minha, mas também não foi boa. Estava numa discoteca no Algarve e dei por mim a correr à volta da pista, sem critério. Uma discoteca normal, com pessoas adultas, e um puto estúpido a correr à volta e a empurrar pessoas e a cair para o chão. Depois acabei a vomitar no quarto de banho, porque não sabia beber. Não é uma experiência em que eu tenha particular orgulho em partilhar“, confessou o comediante.

Por entre histórias com tom leve, surgiram outras mais sérias. Diogo Batáguas admitiu que já teve um acidente de carro devido ao álcool.”Uns dias depois um vizinho meu teve um acidente no mesmo local e não teve a mesma sorte que eu”, completou.

Dos vários mitos apresentados no vídeo inicial, os dois influencers abordaram alguns de forma a desmistificá-los, como por exemplo: “toda a gente bebe”.

Tiago Teotónio Pereira descreveu como, numa saída à noite, percebeu que um colega tinha na mão um copo de água com limão para fingir que bebia gin tónico. Este comportamento resulta da pressão social criada nos grupos de amigos para beber sempre que saem à noite. “É uma estupidez uma pessoa não assumir que não quer beber. Não vai ser menos fixe por isso. Nem se deve fazer pressão para alguém beber”.

“Tu até podes beber, mas não podes obrigar os outros a beber. É preciso evitar essa pressão social”, completou Diogo Batáguas.

“O álcool dá energia” foi outro dos mitos abordados. Tiago Teotónio Pereira confessou que num festival de verão, após beber, acabou por adormecer antes do concerto de Kanye West, o concerto que ele mais ansiava.

“Há muitas histórias que não dá para partilhar porque nos envergonham. E há muitas que achamos divertidas, mas podiam ter corrido mal“, resume o ator.

O papel dos influencers

Diogo tem 135 mil inscritos no seu canal do youtube e Tiago tem 180 mil seguidores no instagram. Os dois oradores da palestra possuem plataformas online com grande alcance. Por isso mesmo aceitaram ambos juntar-se a este projeto. “Acho que se tens uma ou outra informação útil, se podes ajudar a prevenir de alguma forma com experiências pessoais, acho que é a melhor forma de chegar a jovens desta idade”, justificou Diogo Batáguas ao JPN.

Tiago Teotónio Pereira, que é embaixador de marca de uma bebida alcoólica, relembra que é importante filtrar o conteúdo que expõe nas redes sociais. “Não me vês bêbado no instagram, vês com consumo moderado e responsável”, afirma.

Batáguas acha, contudo, que este alcance ou poder para influenciar é limitado: “não se pode colocar a responsabilidade total em pessoas que tem simplesmente conteúdos na Internet. Os jovens não são parvos. Não são influenciados a 100%”, rematou.

“Falar Claro” é um projeto desenvolvido pela APCV-Cervejeiros de Portugal, associação que representa as empresas do setor. A iniciativa integra-se na política de responsabilidade social da organização e tem como parceiros a Confederação Nacional das Associações de Pais (CONFAP), a Associação Nacional de Professores (ANP) e o Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). O objetivo é “auxiliar professores, educadores e outro técnicos com ferramentas para abordar o consumo responsável de álcool e os perigos para a saúde do consumo de álcool pelos jovens”.

A palestra na Escola Secundária Augusto Gomes foi a primeira atividade deste género. “Percebemos que isto de andar a distribuir papéis não é a coisa mais interessante para vocês [os jovens]”, admitiu Francisco Gírio. Por isso decidiram ir “até às escolas conversar e ouvir “.

A associação pretende repetir esta iniciativa no sul e no centro do país, no primeiro semestre do próximo ano.

Artigo editado por Filipa Silva