O jornal “Público” foi o grande vencedor da 12ª edição dos Prémios de Ciberjornalismo ao conquistar quatro das oito categorias a concurso. Além do Prémio de Excelência Geral em Ciberjornalismo, na qual concorria com o Observador e a Rádio Renascença, o diário venceu nas categorias de Última Hora, Narrativa Vídeo Digital e Infografia Digital.

David Pontes, diretor-adjunto do jornal, esteve presente na entrega dos prémios e manifestou a sua satisfação pelas conquistas na sequência de “um ano de muitas mudanças” para o “Público”. Mudou a direção e mudaram algumas rotinas, justamente pela importância crecente do digital: “só no ano passado é que as reuniões diárias da redação deixaram de obedecer aos horários do papel, para servirem o ritmo do digital“, contou, enfatisando a “mudança grande de vida” a que essa alterações obrigaram.

O jornal “Expresso” levou o prémio de melhor Reportagem Multimédia com o trabalho “O lugar onde nem eu nem tu queremos viver”

O Fumaça, que no ano passado se tinha estreado entre os vencedores dos Prémios de Ciberjornalismo, volta a levar um prémio para a redação, desta vez com a série “Aquilo é a Europa”, que venceu na categoria de Narrativa Digital Sonora. Pedro Miguel Santos, diretor da publicação, sublinhou a importância deste e de outros trabalhos feitos sobre o tema da imigração para o continente europeu, enquanto alertas para “não transformarmos ainda mais o Mediterrâneo num cemitério“.

Na categoria de jornalismo regional, foi o Região de Leiria a vencer com a reportagem “Valentyna Bilous: Do sorriso lindo de princesa à força de um golpe no ringue” e entre os estudantes foram os da Universidade do Minho quem, pelo terceiro ano consecutivo, venceu em Ciberjornalismo Académico com “Entre o éter e o digital: ‘a rádio é aquilo que somos'”.

Os prémios foram anunciados e entregues esta quinta-feira de manhã na Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

Na ocasião foi anunciado, para o ano, mais uma edição do Congresso de Ciberjornalismo, que é realizado bienalmente. Será na última semana de novembro.

O júri dos prémios foi presidido, este ano, por Ana Isabel Reis, da Universidade do Porto, tendo também feito parte do grupo Ana Pinto Martinho (ISCTE), António Granado (U.Nova), Belén Galletero-Campos (U.Castilla La-Mancha), Fernando Zamith (U.Porto), Helder Bastos (U.Porto), Inês Amaral (U.Coimbra), João Canavilhas (UBI), Luís António Santos (UM), Luís Bonixe (IP Portalegre), Paulo Nuno Vicente (U.Nova), Pedro Jerónimo (UBI) e Thais de Mendonça Jorge (U.Brasília).

A lista completa de premiados:

Prémios do júri
Excelência Geral em Ciberjornalismo
Público
Última Hora
Greve pelo clima: “É uma das manifestações mais bonitas que já vi” (P3/Público)
Reportagem Multimédia
O lugar onde nem eu nem tu queremos viver (Expresso)
Narrativa Vídeo Digital
Manicómio: ninguém fica de fora (Público)
Narrativa Sonora Digital
Aquilo é a Europa (Fumaça)
Infografia Digital
Espaço 1969 (Público)
Ciberjornalismo de Proximidade
Valentyna Bilous: Do sorriso lindo de princesa à força de um golpe no ringue (Região de Leiria)
Ciberjornalismo Académico
Entre o éter e o digital, “a rádio é aquilo que somos” (ComUM)

Prémios do público
Excelência Geral em Ciberjornalismo
Público
Última Hora
Greve pelo clima: “É uma das manifestações mais bonitas que já vi” (P3/Público)
Reportagem Multimédia
O lugar onde nem eu nem tu queremos viver (Expresso)
Narrativa Vídeo Digital
Manicómio: ninguém fica de fora (Público)
Narrativa Sonora Digital
No país da geringonça (Rádio Renascença)
Infografia Digital
Alterações climáticas: o que já mudou e o que está para chegar (Público)
Ciberjornalismo de Proximidade
Os últimos brandeiros de Val de Poldros (AltoMinho.TV)
Ciberjornalismo Académico
Bairro do Cerco (#infomedia)

“O mesmo jornalismo num novo ecossistema”

Antes da entrega de prémios, foi o ensino do ciberjornalismo que esteve em foco. Primeiro, na conferência de Pilar Sánchez-Garcia, da Universidade de Valladolid, que enfatisou a “ansiedade” e as “dúvidas” com que os professores se confrontam na formação de alunos para um mercado em evolução permanente.

Pilar Sánchez-Garcia é professora na Universidade de Valladolid.

Pilar Sánchez-Garcia é professora na Universidade de Valladolid. Foto: ObCiber/Facebook

A académica, que se debruçou a analisar o que mudou e o que não mudou no jornalismo digital que é hoje feito nas redações, concluiu que permanece inalterada uma parte substancial do que é o papel do jornalista, do que são os géneros jornalísticos e do que é a narrativa jornalísitica e os seus pressupostos.

As principais mudanças identificou-as ao nível dos perfis jornalísticos que ganharam lugar no mercado – do jornalista multimédia ao gestor de redes sociais -, das “linguagens”, que se tornaram múltiplas, da flexibilidade e adaptabilidade que são exigidas.

Numa era de “tecnoeuforia“, a docente conclui que o ensino do jornalismo se deve focar sobre “a essência”, estando nessa essência aspetos como o domínio da escrita, o critério jornalístico, identificar e saber contar uma história, a função social do jornalismo. “Como sobreviver? Com o jornalismo de sempre adaptado ao novo ecossistema”, concluiu.

Novo projeto a caminho na U.Coimbra

No debate que se seguiu à conferência, o ensino do ciberjornalismo continuou no centro das intervenções. Quatro docentes de quatro universidades abordaram o tema partindo das suas experiências pessoais.

O ensino laboratorial do jornalismo foi enaltecido pelos docentes – o qual se traduz, a título de exemplo, em projetos como o do JPN na UP, do #infomédia na Lusófona do Porto ou do Projeto de Jornalismo no Minho – e ficou a saber-se que em Coimbra será criada “em breve” uma nova plataforma, a Media Esfera: “vamos começar uma nova aventura com os alunos”, revelou Inês Amaral no debate.

O "ensino do ciberjornalismo" esteve em debate.

O “ensino do ciberjornalismo” esteve em debate. Foto: ObCiber/Facebook

Em hora e meia de conversa, falou-se sobretudo de dificuldades e desafios no contexto da sala de aula. Inês Amaral, da Universidade de Coimbra, sublinhou a necessidade de “promover o pensamento crítico” nos alunos e de evitar mimetizar o mercado: “os alunos têm de ter a sua experiência”, afirmou.

Vanessa Rodrigues, da Universidade Lusófona do Porto, considerou que são vários os desafios no online, de questões relacionadas com os direitos de autor, a uma certa “contaminação” do discurso, proporcionada pela crescente influência de youtubers.

Dessa diluição de fronteiras com o entretenimento falou também Luís Santos, da Universidade do Minho, para quem “o perfil do aluno mudou“:  “alguns têm perceções completamente erradas sobre o que é o jornalismo”. “Isto causa frustrações mútuas”, advertiu. São contudo também, eles, os alunos, muitas vezes fonte de conhecimento, por exemplo, ao nível das ferramentas: “não devemos temer isso”, aconselhou.

Fernando Zamith, da Universidade do Porto, chamou a atenção para dois problemas: um é o pessimismo com que a área é muitas vezes tratada; outro é mais geral e diz respeito a todo o sistema de ensino em Portugal: “nesta faculdade, daqui a alguns anos, um terço dos professores está reformado. Não se vê em lado nenhum que se esteja a preparar uma reforma de fundo e é evidente que precisamos de sangue novo”, afirmou.

Artigo atualizado pela última vez às 17h30 do dia 28 de novembro de 2019