Falar de diabetes, AVC ou cancro não está entre os tópicos mais “trendy” das gerações mais novas. O que sendo normal, como explica a investigadora Mónica Gomes, não deixa de ser um pensamento de curto prazo. “Quando somos jovens, efetivamente, nada nos acontece. Podemos fumar, beber, apanhar escaldões e a repercussão pode ser nenhuma, no imediato. O grande problema é que, ao longo do tempo, nós temos alterações biológicas e moleculares, que passam completamente despercebidas. E esse é um dos grandes problemas do cancro, a ausência imediata de sintomas”, diz.
Por isso, sublinha a bióloga da Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC), a “prevenção” e a “sensibilização” são fundamentais. “Aqui na instituição trabalhamos muito com a população jovem e costumamos dizer-lhes isso: ‘vocês não trocam de corpo a partir dos 30! O que fizerem vai ficar a acumular ao longo da vossa vida’”.
Esta quinta-feira comemora-se o Dia Mundial da Investigação em Cancro e os jovens investigadores em Oncologia voltam a reunir-se, no Porto, em conjunto com estudantes e profissionais da área, num encontro nacional para partilhar saber, experiências e contactos neste domínio. Mais de 200 são esperados, cerca de 80 em modo presencial, no Auditório do Núcleo Regional do Norte da LPCC.
Das mais de 60 comunicações submetidas pelos participantes, Mónica Gomes destaca a forte presença de pesquisa ligada a potenciais biomarcadores de cancro: “é o que toda a gente procura. A ideia é que antes de um tumor ser visível, por exemplo, numa imagem, nós pudéssemos ter uma perspetiva de que alguma coisa não está bem com uma pessoa. O ideal dos ideais seria nós fazermos uma análise ao sangue ou à urina e dizermos: “isto está aumentado” ou “aquilo está diminuído”, ou seja, [descobrir deste modo que] provavelmente aquela pessoa tem cancro”, explica. Até porque no cancro a deteção precoce é fundamental.
Já para as duas sessões plenárias que integram o programa do evento estão reservados outros temas “quentes” do momento. Um é a importância da “heterogeneidade do cancro” no contexto do combate à doença: “há uns anos, considerávamos que era tudo igual. Não é e é importante olharmos para a individualidade de cada pessoa, olharmos para a individualidade das características do tumor e seguirmos cada vez mais o caminho de uma medicina individualizada, de uma medicina personalizada”, afirma Mónica Gomes. A sessão será conduzida por António Araújo e moderada por Carlos Lopes.
Outro é a utilização de modelos animais inovadores na investigação, que ficará a cargo de João Nuno Moreira (Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra) que “tem desenvolvido um trabalho fantástico” com os chamados “avatares”, explica Mónica Gomes, que servem para “mimetizar em modelos animais aquilo que aconteceria no doente” conduzindo a investigação “mais uma vez, para a tal medicina personalizada”, remata. Lucília Saraiva vai moderar.
Destaque ainda para a presença, na sessão de abertura do evento, de Manuel Sobrinho Simões, professor catedrático da Universidade do Porto, considerado em 2015 como “o patologista mais influente do mundo”. É o atual diretor do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto e estará acompanhado do presidente do Núcleo Regional do Norte da LPCC, Vítor Veloso, e do professor e oncologista Rui Medeiros.