Nos Açores, a noite eleitoral deste domingo (25) fez história. O PS, que governa o arquipélago há 24 anos, perdeu a maioria absoluta, pela primeira vez, em duas décadas, ao obter 39,13% dos votos dos açorianos. Este resultado, o pior desde 1992, garante ao partido 25 mandatos e lança a Vasco Cordeiro o desafio de governar, pela primeira vez, sem a maioria parlamentar, que atingiria com 29 deputados.

Fonte: http://www.resultadoseleitorais.azores.gov.pt/ Infografia: Ricardo Silva

O PSD era o principal partido político da região há 20 anos, quando, em 1996, o PS conquistou a primeira vitória. Atualmente, Manuel Bolieiro, que destaca a importância do “diálogo para garantir a defesa da região”, lidera o PSD-Açores, que nas eleições de domingo se colocou em segundo lugar, com 33,74% dos votos. São 21 os deputados sociais-democratas com assento na Assembleia.

O aparecimento de novos partidos no panorama legislativo da região e a subida do PSD foram essenciais para evitar a maioria absoluta do PS, e o líder do CDS-Açores felicitou os açorianos pelo feito. Em luta renhida com o Chega, o partido liderado por Artur Lima conseguiu 5,51% dos votos e elegeu três deputados.

Chega, IL e PAN conquistam lugar. CDU perde

André Ventura esteve uma semana em campanha no arquipélago, o que pode ter impulsionado a conquista, por parte do seu partido, de dois mandatos na região: Carlos Furtado, eleito em São Miguel, e José Pacheco, pelo círculo de compensação. Apenas 0,45 pontos percentuais abaixo do CDS, o Chega conquista, pela primeira vez, lugar nos Açores, como o quarto partido mais votado. Ultrapassa, assim, o Bloco de Esquerda (3,81%), que, apesar de descer um lugar, mantém os dois deputados de há quatro anos.

Atrás do PPM, que elegeu Gustavo Valadão Alves e Paulo Estêvão com 2,34% dos votos, o PAN e a Iniciativa Liberal (IL) foram as restantes novidades da noite. Com um empate de 1,93%, os partidos chegam à Assembleia açoriana. Nuno Barata (IL) e Pedro Neves (PAN) são os deputados eleitos pela compensação.

Com a chegada de novos partidos, é a CDU que cede o assento, após um resultado surpreendente. Para Jerónimo de Sousa, secretário-geral do partido, a perda do único deputado do partido “constitui um resultado particularmente negativo na vida política regional, um significativo empobrecimento democrático.”

É com 1,68% dos votos que a coligação PCP-PEV vê o seu desaparecimento do mapa político açoriano, à semelhança do que aconteceu no mandato de 2004 a 2008.

Desvantagem da esquerda e a coligação que Ventura negou

Carrega na legenda de cada partido para o retirares ou adicionares à coligação. Fonte: http://www.resultadoseleitorais.azores.gov.pt/ Infografia: Ricardo Silva

Com uma maioria parlamentar de direita, uma coligação à esquerda entre PS e BE será insuficiente, visto que nunca seria atingido o número mínimo de 29 deputados (têm 27 em conjunto). No cenário político atual dos Açores, se um partido de esquerda se quiser coligar, terá que o fazer com a direita.

Pedro Neves, deputado eleito do PAN, garante que esse não será o caso do partido que representa, pelo menos no que toca a alianças que envolvam o Chega: “Um estado de direito democrático não é compatível com expressões xenófobas, homofóbicas e que vedem o direito à liberdade”, declarou no rescaldo da noite eleitoral.

Por outro lado, a noite eleitoral de domingo colocou na mesa a possibilidade de uma “geringonça” de direita, se o PSD se juntasse ao CDS, Chega, PPM, IL e à coligação CDS-PP/PPM (aliança que elegeu um deputado pelo Corvo) para obter, assim, maioria absoluta. André Ventura rejeitou essa coligação, dizendo que o PSD se afastou do Chega, mas voltou atrás na palavra.

Outras hipóteses incluem uma aliança entre os 46 deputados eleitos pelo PS e PSD ou uma coligação de 30 deputados do PS, CDS e BE.

Abstenção diminui

Fonte: http://www.resultadoseleitorais.azores.gov.pt/ Infografia: Ricardo Silva

Nas Legislativas Regionais açorianas, não foram só os partidos eleitos a celebrar. Comparativamente a 2016, ano em que a abstenção foi a mais elevada de sempre, o arquipélago conquistou uma descida significativa de cerca de 5 pontos percentuais, chegando aos 54,58%. Um feito ainda mais louvável, considerando o contexto de pandemia em que se encontra. No entanto, a percentagem indica que a maioria dos açorianos continua a não se dirigir às urnas, algo que tem vindo a acontecer desde 2008.

O surto de COVID-19 não impediu, ainda assim, os cerca de 104 mil votantes de sair de casa e cumprir o objetivo da maior parte dos partidos: acabar com duas décadas de maioria socialista e aumentar a representatividade na Assembleia Legislativa dos Açores. São, agora, oito partidos a reger a vida política do arquipélago.

Artigo editado por Filipa Silva

Este trabalho foi originalmente realizado para o jornal Satélite no âmbito da disciplina de AIJ/Online e Imprensa – 3.º ano