Boavista FC e SL Benfica protagonizaram, esta segunda-feira, no Estádio do Bessa século XXI mais um clássico do futebol português: as duas equipas defrontaram-se pela 125.ª vez, com as panteras a conseguirem, desta vez, uma clara vantagem sobre o adversário. À sexta jornada apareceu um “Boavistão” que “despachou” o Benfica por uns esclarecedores 3-0. Foi a primeira vitória dos axadrezados no campeonato, em noite inspirada de Angel Gomes. Com este resultado o Sporting mantém a liderança, e os encarnados sofrem o primeiro desaire.

Pantera abate águia sem ideias

Ainda à procura dos primeiros três pontos na Liga, Vasco Seabra, técnico dos axadrezados, tentou surpreender e apostou num sistema de três centrais, com Ricardo Mangas mais à esquerda, acompanhado por Chidozie e Christian Devanish, e com os dois alas – Hamache e Cannon – a darem profundidade e a apresentarem-se como setas no apoio ao ataque.

O Boavista contou, ainda, com o regresso de Angel Gomes, que voltou após três jogos de ausência por lesão, ao passo que Benfica manteve, praticamente, o mesmo onze, que vinha numa senda de vitórias. Face à partida da última quinta-feira, na qual as águias bateram o Standard Liége, por três bolas a zero, Gilberto voltou à lateral direita para o lugar de Diogo Gonçalves e Adel Taarabt regressou ao miolo das águias, substituindo o lesionado Pedrinho.

As mudanças boavisteiras não podiam ter resultado melhor, e a formação axadrezada apresentou-se no Bessa muito organizada, a pressionar alto e em bloco, sem nunca se deixar intimidar pelo poderio benfiquista.

Após uma primeira ameaça pelos pés do inevitável Darwin Nuñez, que viu um golo ser-lhe anulado por fora de jogo, a formação da casa reagiu. Aos 18 minutos, depois de uma excelente combinação entre Reisinho e Hamache, Angel Gomes recebeu a bola, já no interior da área adversária, e driblou habilmente a defensiva das águias, mas foi travado em falta por Everton Cebolinha.

Na cobrança do castigo máximo o luso-português abriu o marcador e apontou o segundo golo no campeonato. Era assim premiado o bom início dos homens da casa, fruto de uma proposta de jogo ousada, que apanhou de surpresa os homens de Jorge Jesus.

Ataque das águias em noite de pólvora seca

Em busca do empate, os homens da Luz pegaram nas rédeas do jogo, mas nunca conseguiram impor a superioridade a que estão acostumados na presente temporada. Sem conseguirem romper pela defensiva do Boavista, viram sempre as suas pretensões esbarrar na organização defensiva dos visitados. Maus passes e muitos erros de construção – Otamendi e Gabriel foram os que mais deixaram a desejar – iam pautando uma exibição cinzenta do Benfica.

Foi neste período de maior propensão ofensiva que os encarnados criaram a sua primeira e única oportunidade até ao apito para o intervalo. À passagem do minuto 29, Adel Taarabt escapa facilmente da marcação e cruza para o coração da área, onde Vertonghen, solto de marcação, cabeceia para grande intervenção de Léo Jardim.

Contudo, a produção ofensiva das águias continuava escassa e as oportunidades boavisteiras sucederam-se, até que ao minuto 38 do encontro era ampliada a vantagem.

Jogada na ala direita do ataque axadrezado, com cruzamento de Cannon para a entrada da área, onde Angel Gomes assistiu, subtilmente, para a estreia a marcar de Alberth Elis no campeonato. Muita pantera para pouca águia numa demonstração inegável de eficiência e qualidade por parte dos comandados de Vasco Seabra.

Três alterações logo ao intervalo

Jorge Jesus claramente não gostou do que viu na primeira parte e operou logo três substituições no início da segunda parte. Saiu Gabriel, que falhou muitos passes, para a entrada de Julian Weigl, Pizzi deu lugar a Seferovic, passando Waldschmidt para a direita, e Rafa rendou Everton.

Mas a verdade é que a segunda parte começou como acabou a primeira, com o Benfica a ter a bola, mas a não conseguir entrar no bloco médio do adversário. O Boavista FC mantinha-se muito compacto e a criar mais perigo nas saídas rápidas.

As boas combinações no ataque boavisteiro, facilitadas pelo grande espaço entre a linha média e a defensiva, continuavam a causar grandes dificuldades à defesa benfiquista. Aos 55’ foi Reisinho com uma grande simulação a deixar em Paulinho. O brasileiro abre em Elis que, já com pouco ângulo, permitiu a defesa de Vlachodimos.

Ainda insatisfeito com a sua equipa, Jorge Jesus mexe outra vez aos 56’, introduzindo Diogo Gonçalves para o lugar de Gilberto. O lateral brasileiro nunca foi capaz de acrescentar profundidade e perigo ao flanco direito das águias.

Com o cansaço do duplo pivô boavisteiro, Show e Reisinho, que cobriram muito bem o espaço médio na primeira parte, o SL Benfica começou a entrar com mais facilidade no meio-campo do Boavista FC. Rafa foi o grande impulsionador, sendo o único jogador que conseguia progredir pelo meio com a bola colada ao pé. Ainda assim, continuava bem a defesa das panteras que conseguia sempre evitar a entrada na sua área.

Afinal, havia outro

O Benfica não conseguiu capitalizar quando esteve por cima, e acabou por sofrer o terceiro e derradeiro golo aos 76’. Mais um bom entendimento entre Paulinho e Elis, com uma boa tabela, deixou o extremo com espaço para correr na direita. Sem grande apoio, esperou pelos colegas e cruzou com muito critério para Hamache que chegou ao início da área e rematou com muita força. Um tento indefensável para Vlachodimos, que deixou o Boavista FC com uma vantagem de três golos.

O ritmo abrandou muito depois do golo, com um SL Benfica claramente abalado. O Boavista FC continuava a conseguir sair com perigo, sobretudo com investidas de Alberth Elis na profundidade, que mostrava uma superioridade física assinalável sobre os defesas benfiquistas.

A única grande oportunidade em jogo corrido do SL Benfica surge nos últimos instantes. Darwin, no seu movimento preferencial, isola-se bem depois de um bom passe de Rafa. Ainda assim, mostrou mais uma vez a ineficácia das águias ao permitir uma boa defesa de Léo Jardim, numa das primeiras vezes que o guardião foi chamado a intervir.

O jogo acabou com um surpreendente 3-0. O Boavista FC conseguiu a sua primeira vitória no campeonato, enquanto que o SL Benfica não conseguiu aproveitar a derrota do FC Porto (3-2 em casa do Paços de Ferreira) e a oportunidade de ficar a oito pontos de avanço sobre o maior rival. As panteras ascenderam à 13.ª posição, enquanto que as águias perderam o primeiro lugar para o Sporting CP.

Vasco Seabra realça justiça no marcador

Vasco Seabra, contente pela primeira vitória, realçou o trabalho árduo da equipa para conseguir este resultado. O técnico reforçou que os três pontos deveriam ter chegado em jornadas anteriores, reiterando justiça no marcador. “Penso que fizemos o triplo dos remates do Benfica, isso reflete a nossa capacidade”, frisou. Apesar de não gostar de individualizar, Seabra falou o talento de Angel Gomes, afirmando que “a bola faz parte do corpo dele”.

Jorge Jesus critica adversário faltoso

Jorge Jesus atirou parte das culpas do resultado para a agressividade a mais do Boavista: “na primeira meia-hora, o Boavista já tinha feito 20 e tal faltas, não nos deixou jogar”, reclamou o técnico dos encarnados. Ainda assim, assumiu, “não foi só esse o fator”, entendendo que devia ter feito mais alterações em relação ao jogo anterior, considerando que o cansaço foi um fator determinante “e que a equipa não teve velocidade de reorganização defensiva, como normalmente tem”.

Na próximo domingo (dia 8), o Boavista FC desloca-se a Faro, para defrontar o “aflito” Farense, ainda em busca da primeira vitória. Já o SL Benfica enfrenta uma semana difícil, com receções ao Rangers, na próxima quinta feira (dia 5), e ao SC Braga, que se tem apresentado em bom plano, igualmente, no domingo.

Artigo editado por Filipa Silva