Erling Haaland nasceu em Leeds quando o seu pai jogava no Leeds United. Alf-Inge Haaland estava em Inglaterra há sete anos, depois de ter saído do Bryne, clube modesto da Noruega.

A carreira de Alf foi marcada por inúmeras lesões, que o obrigaram a retirar-se aos 30 anos. Antes disso, jogou na Premier League pelo Leeds United, Nottingham Forest e ainda havia de representar o Manchester City até 2003.

Também a mãe de Erling, Gry Marita Braut, foi atleta de alta competição e chegou a sagrar-se campeã nacional de heptatlo. Rodeado por desporto, o norueguês praticou diversas modalidades como atletismo, andebol e esqui.

Desde tenra idade que demonstrava as qualidades herdadas dos pais. Ainda que tenha mais dois irmãos, foi o único que decidiu seguir a carreira no futebol e optou pela nacionalidade do pai, pois, apesar do seu local de nascimento, mudou-se para a cidade de Bryne com apenas três anos.

Haaland nasceu no país daquela que é considerada a melhor liga de futebol do mundo antes de regressar à Noruega de onde era oriundo e aí começou a dar os primeiros toques na bola.

Apesar da influência do pai, foi o próprio Haaland a força do seu desenvolvimento. “Eu sempre vi fome no Erling. Desde muito cedo, 11 ou 12 anos, ele ia sozinho para um campo interior, praticar as suas habilidades e jogar contra rapazes mais velhos. Ele sempre teve a vontade interior de ser melhor. Talvez tenha sido isso o que herdou de mim, porque nunca tive o seu talento”, conta o pai, citado pelo The Guardian.

Com Alf Haaland afastado do futebol e a emergir no mundo dos negócios, incentivou o filho a seguir as suas pisadas e entrar nas camadas jovens do Bryne. Foi no clube norueguês que fez metade da sua formação, antes de rumar ao Molde, um dos principais clubes nórdicos. Ainda que tenha sido convidado para fazer testes no Hoffenheim, a vontade de ser treinado pelo histórico jogador noruguês Ole Gunnar Solskjær foi preponderante na tomada da decisão.

A transferência para terras austríacas

Motivado pela experiência de um dos maiores goleadores da história do país, foi com os ensinamentos de Solskjær e com muito trabalho de ginásio para desenvolver musculatura que Haaland se tornou num avançado temível. Ao todo, o norueguês marcou 12 golos em 25 jogos, chamando a atenção da imprensa norueguesa, particularmente depois de marcar quatro golos nos primeiros 21 minutos numa partida com o Brann, em 2018.

As boas exibições em tenra idade captaram a atenção de alguns tubarões europeus, particularmente a Juventus, que tentou adquirir o seu passe por seis milhões de euros. Haaland e o seu pai, que na altura era o seu agente, recusaram a transferência para um clube que não lhe daria tempo de jogo suficiente para evoluir.

A escolha recaiu sobre o Red Bull Salzburg, clube conhecido por potenciar jovens jogadores e que cada vez mais está a crescer no contexto europeu. Por nove milhões de euros, o goleador ingressou numa equipa que lhe permitiria mostrar todo o potencial que tinha.

O substituto perfeito de Moanes Dabbur

Pouco a pouco foi-se integrando na equipa austríaca, onde Moanes Dabbur era a estrela na época 2018-2019. O israelita marcou 37 golos em 48 jogos, o que o tornou imprescindível, mas uma transferência para o Sevilha no verão de 2019 abriram as portas da titularidade para o nórdico. De janeiro até maio, Haaland só jogou cinco jogos pelo Red Bull Salzburg, mas isso ia mudar durante o Mundial de sub-20 na Polónia.

Foi em território polaco que entrou para a história ao marcar nove golos na vitória da Noruega sobre as Honduras por 12-0, acabando por se sagrar o melhor marcador do torneio. Para sua infelicidade, a Noruega acabaria por ficar para trás em terceiro lugar, num grupo com Uruguai e Nova Zelândia.

Depois do Mundial, voltou à Áustria, onde tinha um novo treinador, o americano Jesse Marsch, depois de Marco Rose ter saído para o Borussia Mönchengladbach. O treinador formado no Red Bulls New York deu a titularidade a Haaland depois da saída de Dabbur e o nórdico respondeu com seis golos nos primeiros quatro jogos da época.  Além disso, estreou-se na seleção principal da Noruega em setembro de 2019.

Em pouco meses, estreou-se na seleção principal e na Liga dos Campeões onde bateu recordes ao tornar-se no quinto jogador a marcar em jogos consecutivos na prova milionária. A presença no palco europeu deu-lhe confiança, mas também mais tempo para se focar na sua evolução.

Nem as equipas europeias, nem as equipas austríacas eram capazes de parar Haaland. Durante a paragem de inverno, o avançado norueguês tinha 28 golos em 22 jogos em todas as competições pelo Red Bull Salzburg, incluindo cinco hat-tricks. Era quase impossível manter a estrela da equipa por diversas razões. Seja pela fraca competitividade internamente, seja pela cláusula de rescisão ser 20 milhões de euros ou pelo interesse de grandes equipas europeias como o RB Leipzig, Manchester United e Borussia Dortmund.

A confirmação do talento em solo alemão

Enquanto a imprensa inglesa garantia que Haaland estava num avião com destino a Manchester para assinar pelos ingleses, o avançado estava a acertar os últimos pormenores com o Borussia Dortmund a troco de 20 milhões de euros. Mino Raiola, conhecido agente e que cada vez mais tem influência no mundo do futebol, foi fulcral para desbloquear a preferência do avançado pelo Borussia em detrimento do United. As relações entre Raiola e os red devils, devido às novelas protagonizadas por Paul Pogba, não são as melhores. Apesar do treinador da equipa inglesa ser Ole Gunnar Solskjær, a aventura do jovem avançado ia prosseguir na Bundesliga.

Haaland e o seu pai, no dia da apresentação no Borussia Dortmund.

Haaland e o seu pai, no dia da apresentação no Borussia Dortmund. Foto: BVB

O colosso alemão prometeu tempo de jogo ao norueguês, assim como ser a primeira opção na frente de ataque, mesmo com a concorrência de Paco Alcácer. “Ele ainda está a aprender. Ele adora marcar golos, mas também melhorou muito a construção de jogo. Não é um momento específico, mas sim muito trabalho árduo e o clube tem um plano de carreira para ele, onde jovens jogadores têm a oportunidade de jogar. Jogar é a coisa mais importante para ele.“, revelou Alf Haaland em entrevista ao Goal.

Há muito que os responsáveis do Dortmund tinham definido como prioridade a contratação de um ponta-de-lança de raiz, um avançado de área, algo que o clube não tinha nos seus quadros. Marco Reus tinha sido o escolhido para jogar numa posição mais avançada, assim como Götze, mas a contratação de Haaland trouxe caraterísticas que nenhum outro avançado do Dortmund tinha.

O começo de aventura do nórdico não podia ter corrido melhor. No seu jogo de estreia, Haaland marcou um hat-trick depois de sair do banco, garantindo a vitória frente ao Augsburg. Apesar dos golos, na semana seguinte começou outra vez no banco devido a problemas físicos, mas, mais uma vez, respondeu à altura quando foi solicitado. Com mais dois golos decisivos sobre o Köln, os adeptos do Dortmund começavam a ficar maravilhados.

O “menino-homem”, como era tratado pelos colegas de equipa no Salzsburgo, rapidamente ganhou o lugar na frente de ataque e tornou-se na principal estrela da equipa. Com 18 golos em 16 partidas na sua primeira época na Alemanha, Haaland já marcou golos a equipas importantes como o Paris Saint Germain ou o RB Leipzig. O nórdico tem um gosto especial pela Liga dos Campeões, onde ficou apenas atrás de Robert Lewandowski, atual bola de ouro.

Já familiarizado com a realidade da Bundesliga, o jovem avançado continua a fascinar tudo e todos. Na sua segunda época tem 25 jogos e 27 golos, batendo recordes em todas as competições. Com apenas 20 anos, já alcançou o registo de antigas lendas do futebol, como Francesco Totti e Ronaldinho. No total, disputou apenas 13 jogos na prova milionária na sua carreira, tendo já marcado um total de 18 golos, uma média superior a um golo por jogo.

O novo Ibra?

Com 1,90 metros, Haaland por si só já teria um físico excecional para ser um terror na área adversária. Contudo, o norueguês alia a isso uma agilidade rara para alguém com a sua estatura, possuindo controlo de bola e capacidade de jogar em velocidade, sendo bastante mais rápido do que parece. Todas estas caraterísticas, juntando um posicionamento inteligente e uma compostura incomum em frente à baliza, arriscam-nos a tornar um caso sério de sucesso no futebol da próxima década.

Estes atributos permitem uma comparação a Zlatan Ibrahimović, sendo o sueco o maior exemplo da combinação entre altura e técnica. A comparação faz sentido, porque Ibra é um dos ídolos de Haaland. Em entrevista, o jovem avançado colocou o sueco no topo das suas inspirações e, numa fase em que cada vez mais se equaciona que o veterano vai deixar os relvados, Haaland deixou também a garantia de que “sendo também escandinavo, alguém tem de continuar por ele”.

Estatisticamente, Haaland é mais um típico número 9, enquanto o sueco é um jogador que baixa mais no terreno para ajudar na construção no ataque. O norueguês baseia o seu estilo de jogo em velocidade, mobilidade e conseguir passar a última linha defensiva. Por outro lado, Ibrahimović, durante toda a sua carreira, foi um avançado-alvo, uma referência em termos de jogo ofensivo, ou seja, as suas caraterísticas e qualidades permitiam que a equipa fosse mais eficaz ao nível da profundidade. Este mesmo jogador alvo deve e tem de ser competente no jogo aéreo para permitir o tal jogo de profundidade, sendo esta a principal caraterística do sueco.

Esta confiança absoluta na sua capacidade para seguir os passos de um dos melhores avançados de sempre é outra caraterística que aproxima os dois nórdicos. Haaland tem corpo de defesa central, mas é avançado; tem altura para ser lento, mas é rápido com e sem bola; tem 20 anos, mas uma experiência entre os centrais que parece que anda na alta roda do futebol mundial há muitos anos. Com uma cláusula de 75 milhões de euros, a disputa pelo jovem avançado norueguês pode ser a próxima novela do mercado de verão.

Artigo editado por Filipa Silva