O médico cardiologista, Marcelo Queiroga, é o novo ministro da saúde do Brasil e vai substituir o general Eduardo Pazuello.

Tem tudo no meu entender para fazer um bom trabalho, dando prosseguimento a tudo que o Pazuello fez até hoje”, afirmou Bolsonaro a apoiantes, ao chegar no início da noite à residência oficial do Palácio da Alvorada, em Brasília. “A parte de gestão foi muito bem feita por ele (Pazuello) e agora vamos partir para uma parte mais agressiva no tocante ao combate ao vírus”, concluiu o presidente do Brasil.

Queiroga foi a segunda opção do presidente. A médica cardiologista Ludhmila Hajjar foi a primeira a reunir com Bolsonaro e a ser convidada para ocupar o cargo, mas recusou por “divergências técnicas” com o governo. Assim como Queiroga, ela reforça a importância das medidas de isolamento social e é contra o “tratamento precoce” contra a Covid-19, defendido muitas vezes pelo presidente.

Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, os dois primeiros ministros da saúde do Bolsonaro, deixaram o cargo por discordarem da forma como o presidente queria lidar com a pandemia. O JPN relembra os quatro ministros da Saúde que assumiram o cargo desde o início da crise sanitária.

Luiz Henrique Mandetta

Profissão: médico ortopedista

Idade: 56 anos

Período como ministro: de 1 de janeiro de 2019 a 16 de abril de 2020

Gestão da pandemia: Mandetta era defensor das medidas de isolamento social e sempre recomendou que a população seguisse as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Saída: O protagonismo que Mandetta ganhou ao liderar o combate ao coronavírus incomodou Bolsonaro. Mandetta chegou até a ver o seu plano de condução da crise pandémica com o dobro de aprovação da do presidente. Além disso, o apoio público de Bolsonaro ao uso da cloroquina no tratamento da Covid-19, mesmo não havendo comprovação de sua eficácia, também foi motivo de desacordo entre ambos. Estas tensões levaram à demissão de Mandetta.

Nelson Teich

Profissão: médico oncologista

Idade: 63 anos

Período como ministro: 16 de abril de 2020 a 15 de maio de 2020

Gestão da pandemia: Tendo permanecido no cargo por menos de um mês, Teich pouco pôde fazer como ministro da Saúde. Assim como Mandetta, ele defendia o isolamento social e chegou a propor confinamento total para cidades com maior taxa de transmissão do vírus.

Saída: Teich estava a ser pressionado por Bolsonaro para mudar o protocolo do Ministério da Saúde para o tratamento da Covid-19. O presidente defendia a recomendação para o uso da cloroquina, enquanto Teich não considerava o medicamento uma solução. Além disso, Teich estava isolado, e por isso não foi consultado quando o governo federal editou um decreto que ampliava as atividades consideradas essenciais para incluir ginásios e salões de beleza. Em menos de um mês, a visão contrária à do chefe de Estado brasileiro levou à demissão de Teich.

Eduardo Pazuello

Profissão: general da ativa do Exército

Idade: 58 anos

Período como ministro: 15 de maio de 2020 a 15 de março de 2021

Gestão da pandemia: Foi sob o comando de Pazuello que o Ministério da Saúde lançou o protocolo de tratamento da Covid-19 que recomenda a utilização da cloroquina, como queria Bolsonaro. O ministro foi bastante criticado, principalmente pela sua obediência cega ao presidente e pela demora na negociação com laboratórios por vacinas contra a Covid-19.

Adicionalmente, Pazuello passou a ser investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por suposta omissão na crise sanitária do Amazonas, onde pacientes morreram asfixiados por falta de cilindros de oxigénio medicinal.

Saída: Com o Brasil a atingir consecutivos recordes de mortes por Covid-19 e a vacinação ainda em ritmo muito lento, a relação entre Bolsonaro e Pazuello foi sujeita às críticas e pressão dos aliados do governo. A saída do ministro ganhou força no último fim de semana.

Marcelo Queiroga, o atual ministro da saúde

Aos 55 anos, o atual presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia, Marcelo Queiroga é graduado em Medicina pela Universidade Federal da Paraíba, especialista em cardiologia, e doutorando em Bioética pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.

Atualmente, ele dirige o departamento de hemodinâmica e cardiologia intervencionista (Cardiocenter) do Hospital Alberto Urquiza Wanderley (Unimed João Pessoa) e é médico cardiologista intervencionista no Hospital Metropolitano Dom José Maria Pires, também na Paraíba.

Queiroga defende o isolamento social como forma de combate à pandemia e também já se posicionou contra o “tratamento precoce” à base de cloroquina, medicamento comprovadamente ineficaz contra a Covid-19.

Apesar da proximidade com a família Bolsonaro, principalmente do senador Flávio Bolsonaro que o queria no cargo após a queda de Mandetta, Queiroga é defensor da vacinação contra a Covid-19, “a principal aliada” e defende o uso de máscaras para compor um lote de “medidas eficazes” para controlar a doença.

Em abril de 2020, Queiroga defendeu, em entrevista à GloboNews, o isolamento social, que ajudaria a “reduzir aquele pico de pessoas que precisam de internação hospitalar”. O novo ministro da Saúde na altura defendeu também um Sistema Único de Saúde mais robusto: “Esse é o recado que esta pandemia traz para todos nós brasileiros”.

Em entrevista à CNN Brasil, depois da nomeação, Queiroga, não querendo já contrariar o seu novo chefe, referiu que o confinamento só deve ser utilizado em “situações extremas” e “não pode ser política de governo fazer lockdown. Tem outros aspetos da economia para serem olhados”.

Artigo editado por João Malheiro