Os investigadores da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) “precisam urgentemente de espaços dignos para trabalhar”. O repto foi deixado, esta segunda-feira, por Fernanda Ribeiro, diretora da instituição, na sessão solene de abertura do ano letivo que voltou a ocorrer, como é habitual, no seu formato presencial.
“A ocupação do edifício FLUP ID no complexo [da Rua] dos Bragas, em outubro de 2016, foi uma solução provisória para criar um espaço integralmente dedicado à investigação. Mas nunca desistimos de lutar pela construção no campus da FLUP do edifício projetado desde 2003”, recordou a responsável ao reitor da Universidade do Porto, António de Sousa Pereira, também presente na sessão.
“Lamentavelmente estes processos são lentos. São desesperantes e só com muita fé e resiliência se consegue continuar a acreditar que vai ser possível. Sei que o senhor reitor, tal como eu, acredita que vai ser possível lançar a empreitada muito em breve e agora sim iremos ter o edifício para a investigação”, rematou Fernanda Ribeiro, a cujo repto o reitor acabou por não aludir na intervenção que fez mais à frente na cerimónia.
Mais perto de ser uma realidade está a conclusão da obra no Palacete Burmester, onde a diretora da FLUP espera que, já no início do próximo ano, “se inaugure o Centro de Estudos da Cultura em Portugal da Universidade do Porto.”
Ainda no capítulo do investimento em infraestruturas, a responsável referiu a conclusão, este ano, do processo de transferência para a FLUP da Licenciatura em Ciências da Comunicação [de que o JPN faz parte], que implicou a construção de um estúdio de rádio e a instalação do jornal, numa intervenção que contou com “o apoio financeiro da Embaixada dos Estados Unidos, através do American Corner“, referiu. “No próximo ano, esperamos ter a possibilidade de instalar o estúdio de televisão”, anunciou ainda.
Dois novos cursos
Entre as novidades avançadas na intervenção, duas relacionam-se com a oferta formativa. Fernanda Ribeiro referiu, em particular, a reformulação “profunda” operada na Licenciatura em Línguas, Literaturas e Culturas, “na qual foram criados novos perfis, designadamente a área do Português, o que vai permitir descontinuar a Licenciatura em Estudos Portugueses e criar, em sua substituição, um novo curso de primeiro ciclo: a Licenciatura em Literatura e Estudos Interartes, que dentro de dias será submetida à A3ES”, informou.
Além deste, será ainda proposto à Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES) “um novo Mestrado em Filosofia, Política e Economia, curso partilhado com a Faculdade de Economia” da Universidade do Porto. Uma proposta que será submetida no ano em que, em Portugal, foi lançada a primeira licenciatura nessa área, no caso, pela Universidade Católica Portuguesa.
Uma “charla” sobre sustentabilidade
Numa sessão dominada pelo tema da sustentabilidade ambiental, patente também numa exposição colocada à entrada da faculdade e num novo sub-site da instituição dedicado ao tema, a responsável da FLUP elencou ainda algumas medidas adotadas nos últimos anos tendo em vista “uma FLUP mais amiga do ambiente”.
Além da substituição de 3.300 lâmpadas por tecnologia LED, da mudança de toda a caixilharia do Edifício Central e da instalação de 300 painéis solares que permitiram à instituição “subir dois níveis na classificação da certificação energética” e poupar “consideravelmente” na conta da eletricidade, a diretora referiu ainda a troca de “todos os caixotes do lixo existentes em todas as salas e gabinetes, que implicavam a compra de uma tonelada de plástico por ano, por 50 ecopontos com separação de lixo”.
As medidas mereceram o elogio do ministro do Ambiente. Todas menos “uma”. O antigo presidente da Águas do Porto sugeriu que não há necessidade de aplicar filtros na água, porque “a água da torneira é perfeita”. “De resto, concordo com tudo”, brincou.
O governante que optou por um registo informal na alocução que fez – “uma charla” no lugar de uma oração de sapiência – dissertou à volta de “sete ideias” relacionadas com o tema da sustentabilidade. Considerando as alterações climáticas um “fenómeno do presente”, o ministro sublinhou que as gerações futuras são as atuais, colocando a tónica na necessidade de alterar comportamentos individuais agora.
Para falar de ambiente, Matos Fernandes não deixou de fora a economia para frisar que dos cenários estudados pelo Governo para atingir a meta da neutralidade carbónica do país em 2050, o que coloca Portugal mais perto da concretização do objetivo “é aquele em que a economia mais cresce”.
“Pode parecer estranho”, disse, porque uma economia a crescer “consome mais energia”, envolve “mais deslocações e mais mobilidade”. Contudo, “se essas deslocações forem neutras em emissões e se o setor electroprodutor produzir toda a sua eletricidade a partir de fontes renováveis, tendo sempre como pano de fundo o cenário da eficiência, nós vamos ser neutros em carbono em 2050 com a economia a crescer mais”, analisou.
No final da intervenção, e em jeito de balanço dos seus seis anos como ministro – “parecem 600”, brincou – Matos Fernandes considerou que a ação governativa falhou até agora “na formação e integração” do que chamou de “agentes de mudança”. Por considerar que a transformação que é precisa “não se faz contra a vontade das pessoas”, Matos Fernandes apontou que “é preciso encontrar os agentes de transformação certos”.
Na sessão intervieram também o reitor da Universidade do Porto, António de Sousa Pereira, a representante do pessoal não docente e não investigador da FLUP, Cláudia Ramos Pereira, e o presidente da Associação de Estudantes. João Moreira lembrou que “é imperativo compreender o impacto psicológico e pedagógico” que o último ano e meio teve sobre os estudantes universitários.