A Universidade do Porto (UP) assinou, na terça-feira (7), no Salão Nobre da Reitoria, uma parceria com o grupo alemão Bosch, com foco na mobilidade inteligente. O Projeto THEIA – Automated Perception Driving contempla um investimento de 28 milhões de euros, que serão aplicados até 2023, no aprimoramento das capacidades sensoriais dos veículos autónomos, com a ajuda dos investigadores da UP.

Com a parceria, as duas entidades estimam gerar 125 vagas de emprego: 55 na Bosch e 70 na UP. Quanto à repartição do investimento, a UP esclarece ao JPN que 21.3 milhões de euros serão aplicados pela empresa (43% do valor será financiado com fundos comunitários) e 6.8 milhões cabem à UP (a instituição suporta 25%, o restante é financiamento europeu).

Por parte da Universidade do Porto, assinaram o contrato o reitor António de Sousa Pereira e os diretores das faculdades diretamente envolvidas no projeto: Ana Cristina Ferreira, pela Faculdade de Ciências, e João Falcão e Cunha, pela Faculdade de Engenharia. Do lado empresarial, rubricaram o acordo Carlos Ribas, representante da Bosch em Portugal, e André Reis, administrador comercial da Bosch em Portugal. A parceira conta ainda com a AICEP (Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal), dada a aplicação de fundos europeus.

Consórcios são “fundamentais” para o país

No seu discurso, António de Sousa Pereira sublinhou que a parceria entre o grupo Bosch e a Universidade do Porto traduz a confiança da empresa nas competências científicas e tecnológicas da universidade [as duas entidades assinaram outro acordo de parceria em 2019, o Safe Cities], em particular, das faculdades de Ciências e Engenharia, as duas que participarão no projeto.

Reitor António Sousa Pereira falou no final aos jornalistas. Foto: Ana Torres Foto: Ana Torres

O reitor da UP acrescentou que “é fundamental” para o desenvolvimento do país “que os decisores políticos sejam sensíveis à importância da inovação e estejam conscientes do papel fundamental dos consórcios universidade-empresas na conversão do conhecimento em produtos, serviços e tecnologias, com valor acrescentado e competitividade no mercado.”

A mensagem foi ouvida pelo primeiro-ministro António Costa que esteve presente na cerimónia. No seu discurso, Costa felicitou os envolvidos e acrescentou que o investimento em qualificação, em ciência e na capacidade de inovação, fomenta uma economia mais competitiva. Segundo o chefe do Governo, estas iniciativas têm ainda a vantagem de ajudar a reter no país “esta geração de estudantes que nosso sistema de ensino superior tem vindo formar.”

Costa aproveitou também para recordar que existem outros 64 consórcios a envolver empresas e o sistema científico e tecnológico nacional prestes a serem assinados, no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Desses, 28 têm a participação da Universidade do Porto, frisou o primeiro-ministro.

“Isto demonstra bem a qualidade de excelência quer dos recursos humanos formados na Universidade do Porto, quer da qualidade do conhecimento produzido pelas diferentes unidades desta universidade”, afirmou o governante.

Afinal, o que é “mobilidade inteligente”?

O desenvolvimento de tecnologias capazes de substituir os humanos na condução de um carro parece estar mais próximo do que imaginamos. A automação veicular é dividida em cinco níveis:

  • O nível 0 | Sem Automação

Quando o humano realiza todas as tarefas de direção, mas um assistente automático deteta, por exemplo, veículos nos “ângulos mortos” dos retrovisores.

  • O nível 1 | Assistência ao condutor

Compreendem os veículos que têm Sistemas Avançados de Assistência ao Condutor. Esses sistemas são programados para controlar o movimento lateral e longitudinal do veículo. Neste nível, o condutor ainda depende completamente do comportamento humano.

  • O nível 2 | Automação Parcial

Conta com assistentes eletrónicos programados para manter o carro no centro da faixa, mas os condutores continuam a ser responsáveis pelo movimento. Além disso, é possível programar uma velocidade.

  • O nível 3 | Automação Condicional

O condutor já tem uma independência maior, e não precisa de supervisionar a direção, exceto quando o sistema, perante uma eminente situação de risco, reclame a sua atenção.

  • O nível 4 | Alta Automação

Neste nível, a automação é quase total. Aqui, o veículo tem alta autonomia perante situações imprevistas que podem surgir durante um percurso. O programa é feito para conduzir o veículo de forma contínua no tempo, porém, o ambiente precisa ser controlado.

  • O nível 5 | Automação Total

Este é onde os projetos de desenvolvimento de automação veicular pretendem chegar, isto é, à automação total.  Aqui, o ser humano só intervém na direção se assim quiser.

O projeto THEIA

No final da cerimónia e em declarações aos jornalistas, o reitor António de Sousa Pereira explicou que o projeto visa aumentar a capacidade de leitura da envolvente dos veículos, o que possibilitará reforçar a segurança: em causa está software associado a sensores que permite fazer uma leitura do ambiente a garantir que a condução autónoma seja feita de forma segura. Portanto, haverá todo o tipo de sensores que serão utilizados no futuro nos automóveis autónomos para garantir que a probabilidade de ocorrer eventos nefastos seja reduzida a zero”, declarou.

Ao JPN, Luciano Sousa, engenheiro de algoritmo e software da Bosch, explicou que o desenvolvimento da automação é o principal objetivo do THEIA. Os sistemas a desenvolver nesta parceria vão encaixar no nível 3 de automação (ver caixa). Dito de outro modo, um nível de automação em que o condutor precisa de prestar atenção sobre o percurso, mas o carro faz a condução.

Pensar em veículos sem condutores parece futurista, mas o engenheiro da Bosch garante que, em pouco tempo, será possível alguma automação nos veículos em Portugal: “uma estimativa segura é, daqui a cinco anos, ter algum tipo de automação disponível nos veículos, ou seja, estamos a falar do nível 3 de automação, que implica que o condutor tem que estar a prestar atenção, mas o carro está a fazer a condução por si só.”

Em relação à infraestrutura pensada para receber este tipo de veículos, Luciano Sousa completou: “o que nós pretendemos é que o veículo seja um ator por si só, queremos tentar reduzir a infraestrutura ao mínimo fora do veículo, para conseguir aplicar este projeto a qualquer cidade, em qualquer momento.”

Em busca de “conhecimento fresco”

A parceria de inovação entre a academia e a indústria quer, então, incentivar a criação de novos produtos, tecnologias e estratégias. António de Sousa Pereira frisou ainda que a valorização do conhecimento aliada à capacidade de inovação é importante para a recuperação económica do país pós-pandemia, sendo também um contributo para reforçar a capacidade industrial de Portugal.

Por sua vez, a Bosch, com longa tradição no mercado, incluindo no setor automóvel, reconhece nas universidades portuguesas, terreno para desenvolvimento e inovação – tem também parcerias com a Universidade do Minho.

Luciano Sousa justificou a busca por estas parcerias pois nelas a empresa encontra jovens recém-formados com “conhecimento fresco” e professores com profundo conhecimento em tecnologia, e assim, conseguem trabalhar “tecnologia de ponta”.

Artigo editado por Filipa Silva