Tiago Guedes, até agora diretor artístico do teatro Municipal do Porto – Rivoli (TMP), vai deixar o cargo para dirigir a La Maison de la Danse e a Biennale de la Danse de Lyon, em França, foi anunciado esta quinta-feira (19). Com a saída do diretor, Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto (CMP), diz não ser preciso “nomear um diretor artístico amanhã”, uma vez que “a temporada está programada”. O autarca deixa em aberto a possibilidade de uma direção artística partilhada para a sala portuense.

Numa conferência de imprensa na manhã desta sexta-feira (20), realizada nos Paços do Concelho, o autarca deixou claro que a sucessão de Tiago Guedes será “ponderada”.

“Não preciso de nomear um diretor artístico amanhã. Neste momento, temos uma equipa que nos permite garantir a continuidade deste processo durante o tempo suficiente até que seja encontrada uma ou mais direções artísticas. Não há uma interrupção, não temos essa vertigem”, garantiu Rui Moreira.

O presidente frisa que vai “falar com vereadores, várias forças políticas e com o conselho municipal de cultura”, num “tempo de consulta” necessário para perceber “qual o modelo que deve ser implementado” para a nova direção do Teatro Municipal do Porto.

Com esta saída, Rui Moreira clarifica que o trabalho desenvolvido por Tiago Guedes será para continuar. O diretor mantém-se no cargo até ao final de junho, para que seja feita “uma transição orgânica”. Rui Moreira garante que não haverá qualquer quebra na programação do teatro, que tem já “a temporada programada”; “as coisas estão contratadas, não há uma interrupção”, garante.

É garantida, também, a continuidade do Festival Dias da Dança (DDD), criado por Tiago Guedes em 2016, que Moreira assume continuar a ser organizado pelo TMP. O certame regressou este ano aos palcos depois de dois anos sem público.

Teatro Rivoli celebra 89º aniversário com cinco dias de festa.

Rui Moreira garante que a próxima temporada do Rivoli já está programada. Foto: Daniela Carmo

Tiago Guedes diz que convite francês foi “irrecusável”

O agora diretor artístico cessante do TMP, no cargo desde 2014, leu um discurso que agradecia, em primeiro lugar, a Rui Moreira pelas “condições políticas” que encontrou no cargo: “a estratégia para a cultura defendida por Rui Moreira projetaram o Porto à escala mundial”, referiu.

“As condições que me deu para trabalhar [no Rivoli] contribuíram para que agora fosse escolhido para dirigir duas grandes instituições europeias”, referiu Tiago Guedes. Além de ter sido impulsionador do DDD, Tiago Guedes foi, pelo TMP, também fundador do Centro de Residências e Criação Artística Campus Paulo Cunha e Silva, que inaugurou em junho de 2021.

Projetos como estes “projetaram culturalmente o Porto, que hoje ombreia os seus pares europeus. O Porto neste momento é uma referência para as artes performativas e é um orgulho ter ajudado que tal acontecesse. O terreno está bem lavrado para que estes projetos possam seguir o seu rumo”, referiu aos jornalistas e convidados, salientando “oito anos de viagem conjunta, muito bonita”.

Tiago Guedes referiu que seriam “poucos ou nenhuns seriam os projetos” que o fariam “querer sair do Porto”, mas assume que o convite francês foi “irrecusável” – algo que só anunciou há dois dias a Rui Moreira, que além de presidente é também o responsável pelo pelouro da Cultura. Defende, no entanto, “que os diretores artísticos de instituições não se devem eternizar nos seus cargos”, pelo que a “oportunidade e timing” são “os corretos para tentar novos desafios”.

O responsável pelos últimos oito anos de Teatro Municipal do Porto sucede a Dominique Hervieu no projeto de Lyon, que vai liderar depois de ter sido selecionado por um júri entre seis candidatos ao cargo. Começa no cargo a tempo parcial no primeiro dia de julho e, depois, assume-o integralmente a partir de 1 de setembro.

Com vista a dar “uma identidade comum” à Maison de la Danse, à Bienal de Lyon e aos Ateliers de la Danse, não esquece, também, um “intensificar” de relações entre a Maison e o TMP, que já colaboram “há muitos anos”. Tiago Guedes deixa, por isso, uma garantia: “vamos continuar a trabalhar em conjunto, não irei desaparecer do Porto”.

Tiago Guedes foi bailarino e coreografo entre 2001 e 2013. Formado pela Escola Superior de Dança do Instituto Politécnico de Lisboa, foi, antes de chegar ao Rivoli, diretor artístico do Teatro Virgínia – Teatro Municipal de Torres Vedras e da associação cultural Materiais Diversos. Este não será o primeiro projeto de Guedes em França – entre 2006 e 2008, foi o coreógrafo residente do Théâtre Le Vivat, em Armentières.