A visita ao Porto do fundador do jornal "Expresso" serviu também para homenagear um jornal que, frisou Rui Moreira, marcou a “transição democrática em Portugal”.

Salão nobre encheu para a cerimónia de entrega das Chaves da Cidade a Francisco Pinto Balsemão. Foto: Carolina Bastos Pereira

“A partir deste dia, Vossa Excelência tem as chaves da nossa cidade. Passa a ser um de nós – um cidadão do Porto”. Foi a enaltecer “a figura que melhor representa em Portugal a liberdade de expressão” que Rui Moreira entregou as Chaves da Cidade do Porto a Francisco Pinto Balsemão, esta quinta feira (21), nos Paços do Concelho.

O presidente da câmara do Porto realçou o papel do fundador do “Expresso” em várias dimensões, da política à empresarial.

“Lutou pela democracia na chamada ‘ala liberal’ da Assembleia Nacional. Lutou por um regime democrático de tipo ocidental e por uma social-democracia europeia durante o PREC. Lutou pelo fim da tutela militar sobre o poder político e a sociedade civil. Lutou pela integração de Portugal na Europa. Lutou por uma economia moderna e competitiva, mas de rosto humano. Lutou por uma comunicação social independente, plural e isenta”, destacou Rui Moreira.

A passagem pelo cargo de primeiro-ministro, entre 1981 e 1983, foi curta, mas “muito intensa”, frisou o edil do Porto, destacando desse período o facto de Balsemão ter “conseguido aprovar” a revisão constitucional de 1982, que “redefiniu o sistema político português ao extinguir o Conselho da Revolução e ao criar o Tribunal Constitucional”.

“Uma cidade que tanto lutou pela liberdade e que muito preza os valores do liberalismo, como o Porto, não podia perder esta oportunidade de homenagem”, justificou ainda o autarca, que viu na celebração do cinquentenário do “Expresso” – um jornal que “ajudou a consolidar a transição democrática em Portugal” – e na inauguração da exposição alusiva à data “um bom pretexto” para a entrega das chaves.

Sá Carneiro e outros “velhos amigos”

No Salão Nobre da Câmara Municipal do Porto, num ambiente solene, Francisco Pinto Balsemão teve diante de si figuras públicas de vários quadrantes: do diretor de programas da Sic, Daniel Oliveira, ao eurodeputado Paulo Rangel, do bispo Américo Aguiar ao empresário Manuel Serrão, entre muitos outros.

O fundador do “Expresso” recordou “velhos amigos” no discurso de agradecimento. Foto: Carolina Bastos Pereira

“Com emoção”, o homenageado recordou alguns “bons e velhos amigos” portuenses. Entre eles, destacou Francisco Sá Carneiro (1934-1980), antigo primeiro-ministro, natural da Invicta, a quem sucedeu em 1981, após a morte do social-democrata no trágico acidente de Camarate. Um evento que “causou uma tremenda comoção no país”, como recordou Rui Moreira. Também o político Miguel Veiga (1936- 2016) foi homenageado por Balsemão, por ter sido seu “anfitrião” na cidade e ter pertencido ao conselho de administração da Impresa, o maior grupo de comunicação social português, fundado por Pinto Balsemão e ao qual, hoje, pertence a SIC e o “Expresso”, e revistas como a “Blitz”.

A passagem de Francisco Pinto Balsemão pela Invicta não fez ao empresário apenas recordar as mudanças sociais e políticas que ajudou a concretizar, como o projeto de navegabilidade do Douro, um “sonho tornado realidade”. Na cerimónia, o antigo primeiro-ministro afirmou que “o Porto não é apenas uma cidade grande, é uma grande cidade”, que “tem alma, tem personalidade própria”.

Exposição na praça D. João I e banco novo no Palácio de Cristal

No mesmo dia em que Francisco Pinto Balsemão recebeu as chaves da cidade do Porto, foi também inaugurada na cidade a exposição comemorativa da efeméride. Uma mostra inaugurada em janeiro em Lisboa e que chegou à cidade do Porto após ter percorrido os restantes 17 distritos do continente.

Exposição já passou pelas 18 capitais de distrito do continente (incluindo agora o Porto). Fica patente até 5 de outubro. Foto: Carolina Bastos Pereira

Na praça D. João I, é agora possível revisitar 50 capas históricas, uma por cada ano do jornal “Expresso”. A inauguração contou também com a presença do presidente da Câmara do Porto e do diretor do semanário, João Vieira Pereira.

A primeira capa data ainda do regime caetanista, e o título é uma prova do papel desempenhado pelo semanário na construção de uma sociedade informada: “63 por cento dos portugueses nunca votaram”, lê-se. Numa nota deixada na exposição, sublinha-se que a escolha das capas não obedeceu a um critério subjetivo como “a mais bonita”, “a melhor” ou “o assunto mais importante”, mas à seleção de “uma das primeiras páginas mais marcantes” do ano em questão.

Ainda em tom comemorativo, também nos Jardins do Palácio de Cristal está, agora, uma homenagem ao semanário mais lido em Portugal: um banco de leitura, situado no parque infantil, que constitui uma peça de arte urbana destinada à leitura, com algumas edições históricas em destaque.

Banco pretende ser lugar “de encontro e incentivo à leitura”, segundo o “Expresso”. Foto: Tiago Lima

Foi em janeiro de 1973, em pleno regime caetanista, que a primeira edição do jornal “Expresso” foi lançada, ultrapassando na altura os 60 mil exemplares vendidos. O slogan é simples e relembra o objetivo da criação de um jornal que sempre defendeu isso mesmo: a “liberdade para pensar”. Cinquenta anos depois, o semanário é também, desde janeiro deste ano, membro honorário da Ordem da Liberdade, pelo papel que desempenhou na abertura do regime após a revolução de abril e pelo trabalho desenvolvido ao longo de meia década.

Editado por Filipa Silva