Queda aparatosa e grave no País Basco, que envolveu vários ciclistas, incluindo os favoritos à vitória final, vai implicar uma paragem longa para o vencedor das últimas duas edições do Tour, o que colocará em causa a sua preparação. A análise é de Paulo Martins, antigo ciclista e comentador de ciclismo na Eurosport. "Velocidade excessiva" pode ter sido a causa, para o especialista.
Jonas Vingegaard, Remco Evenepoel e Primoz Roglic, três dos favoritos a vencer a Volta ao País Basco, sofreram uma queda aparatosa na prova espanhola na quinta-feira e foram obrigados a abandoná-la. Em resultado do grave acidente, que envolveu outros ciclistas do pelotão, para Vingegaard e Evenepoel a época – ou pelo menos o ponto alto da época de ambos, o Tour – pode ter ficado seriamente comprometida.
A queda ocorreu durante uma descida, a cerca de 30 quilómetros da meta, na quarta etapa da Volta ao País Basco. O bicampeão da Tour, Jonas Vingegaard, foi retirado de maca, com suporte respiratório e um colar cervical. O dinamarquês fraturou a clavícula, várias costelas e teve uma lesão nos pulmões.
Ao JPN, Paulo Martins, ex-ciclista e atualmente comentador de ciclismo na Eurosport Portugal, acredita que esta queda colocou em causa as aspirações do corredor da Visma no que diz respeito à prova mais importante da época: “Acredito que possa ainda vir a estar no Tour, mas muito condicionado na sua preparação em altitude, que é fundamental na condição física de qualquer atleta”.
Lembrou, a propósito, também o caso do grande rival de Vingegaard, Tadej Pogačar, que, em 2023, fraturou o escafoide por esta altura na Liege-Bastogne-Liege e não pôde fazer todo o treino de altitude que tinha previsto e “pagou isso na terceira semana do Tour”. “A paragem de Vingeggard pode ser de 8 a 10 semanas”, adverte Paulo Martins, antecipando assim que a preparação do dinamarquês fique em xeque.
Já Remco Evenepoel, depois do acidente que sofreu em 2022 quando caiu de uma ponte de cinco metros na Volta à Lombardia que levou à sua paragem cerca de nove meses, voltou a lesionar-se, agora no País Basco, na sequência de outra descida rápida. Para Paulo Martins, não foi a parte psicológica a afetar o atleta.
“Após a queda de 2022, que foi muito grave, ele estava bem recuperado e andava muito rápido nas descidas, inclusive, ontem [quinta-feira] vinha nos cinco primeiros do pelotão”, analisa Paulo Martins. Sobre a lesão, se fosse apenas na clavícula, com uma operação, em duas semanas estaria a pedalar, mas fraturou também o omoplata: “Aí não tem operação possível, o osso tem de solidificar sozinho e a recuperação esperada poderá ser de 8 semanas”. “O Remco se for ao Tour vai também condicionado como Vingeggard”, sentencia Paulo Martins.
Cerca de 11 ciclistas sofreram várias fraturas
Outros ciclistas também estiveram envolvidos na queda: Sean Quinn (EF Education) fez uma fratura do esterno e concussão e vai parar entre 5 e 6 semanas; Jay Vine (UAE) fraturou a cervical, teve duas fraturas no corpo vertebral da coluna, a sua paragem será de 12 semanas; Steff Cras (TotalEnergies) fraturou a vertebra, as costelas e o pneumotorax e irá parar 12 semanas.
Já os ciclistas Natnael Tesfatsion (Lidl-Trek), Markel Beloki (EF Education) e Primož Roglič (Bora) – este último era líder da prova até ao dia do acidente – segundo o comentador da Eurosport sofreram “apenas os ferimentos normais de uma queda, podendo voltar a treinar muito provavelmente em 2/3 dias”. Devem ficar assim aptos, rapidamente, a “continuar o programa natural de provas que tinham agendados”.
Com tantas quedas e abandonos, sobretudo pela saída dos grandes favoritos à vitória, Paulo Martins acredita que a corrida ficará “muito desbloqueada”. “Penso que iremos ter uma corrida muito atacada de longe da meta”. Quanto a apostas sobre um potencial vencedor, o comentador aponta o nome Mattias Skjelmose, dinamarquês da Lidl-Trek.
Velocidade exagerada pode ter sido a causa
Ainda sobre a grave queda que afetou os corredores, para o ex-ciclista, o motivo principal da queda foi “a velocidade excessiva imposta pelo pelotão, demasiados líderes a quererem fazer a descida na frente, pois estava-se a entrar numa zona importante da etapa e jogava-se a geral. O piso era bom e até mesmo a curva tinha boa visibilidade”, sublinhou.
Na mesma linha, Julián Eraso, diretor da Volta ao País Basco, falou à imprensa na manhã após a queda que deixou 11 ciclistas fora da corrida e o que isso significou em termos de cobertura mediática. Explicou que a Volta ao País Basco 2024 está a decorrer em estradas mais largas e seguras do que noutras edições: “O que aconteceu ontem pode ser chamado de incidente de corrida porque, no final, faz parte do ciclismo, o que aconteceu foi um incidente infeliz”, concluiu.
A Volta ao País Basco termina no domingo, dia 7 de abril.
Editado por Filipa Silva