A 50.ª edição da prova que é o “amuleto da sorte” de muitos ciclistas vai voltar a contar com alguns dos maiores nomes do ciclismo mundial. Treze equipas do World Tour (categoria principal da UCI) e 23 atletas do top 100 mundial vão marcar presença na Algarvia.

Remco Evenepoel já venceu duas vezes a Volta ao Algarve. Foto: Volta ao Algarve/Facebook

A única corrida portuguesa por etapas que integra o UCI ProSeries volta às estradas algarvias entre os dias 14 e 18 de fevereiro. Esta é a edição com o número mais elevado de sempre de equipas da elite mundial, a par de 2018: 13, no total. Para além destas, conta ainda com três equipas continentais profissionais e nove equipas continentais portuguesas. Sérgio Sousa, diretor da organização da Volta ao Algarve, sente que esta é “uma prova cada vez mais presente nos calendários das equipas do WorldTour”.

O pelotão deste ano conta com 174 ciclistas e inclui vários vencedores de grandes voltas e especialistas de diversas variantes do ciclismo. Sérgio Sousa acredita que “alguns até consideram esta corrida como um amuleto da sorte”, uma vez que, em várias ocasiões, os vencedores da Volta ao Algarve “acabam por se revelar ciclistas de grande nome internacional”. São disso exemplos Primož RogličTadej Pogačar e Remco Evenepoel como atletas que venceram a Algarvia, antes de se tornarem destaques do ciclismo mundial. O último é o único dos três a marcar presença este ano.

Por falar na elite mundial, o pelotão sofreu uma baixa de última hora, com especial relevo para o público português: João Almeida (UAE Team Emirates) vai falhar a prova, segundo anunciou o seu agente, João Correia, à Lusa, na quarta-feira. O melhor ciclista português “teve uma constipação que atrasou a sua preparação e optou por apenas começar a época no Paris-Nice”.

Rui Costa (EF Education-EasyPost) é agora o maior nome nacional a marcar presença na Algarvia. De destacar ainda a participação do jovem António Morgado (UAE Team Emirates), Rui Oliveira (UAE Team Emirates) e Iúri Leitão (Caja Rural-Seguros RGA).

Frederico Bártolo é jornalista do diário “O Jogo” e comenta regularmente a Volta ao Algarve na Eurosport. O entusiasta do ciclismo conta que “vê a prova desde miúdo” e que começou a acompanhá-la profissionalmente há oito anos.

Apesar de afirmar que há alguns nomes que se podem intrometer na luta pela conquista da prova, Bártolo afirma que o grande favorito deste ano é o atual campeão do mundo do contrarrelógio Remco Evenepoel: “Já venceu a prova duas vezes, tem uma vantagem muito grande no contrarrelógio e as subidas que aqui temos acabam por beneficiar o Remco”.

O belga da Soudal-Quick Step chegou a Portugal em boa forma e do país já leva um título: a vitória, este domingo (11), a segunda edição da clássica da Figueira da Foz, com enorme vantagem sobre a concorrência.

Contudo, o comentador acredita que esta pode ser a prova de afirmação de outros ciclistas, por diferentes razões:

  • Tyvan Arensman (INEOS Grenadiers) – ciclista holandês de 24 anos que “pode mostrar aqui atributos e ganhar espaço dentro da própria equipa”;
  • Daniel Felipe Martínez  e Sergio Higuita (BORA – hansgrohe) – ciclistas colombianos de 26 e 27 anos respetivamente, que estão à procura de se “afirmarem” na equipa; o primeiro é o vencedor em título;
  • António Morgado (UAE Team Emirates) – ciclista português de 20 anos que pode aproveitar “o espaço aberto” criado pela ausência de João Almeida;
  • Jan Christen (UAE Team Emirates) – ciclista suíço de 19 anos, na linha do que pode acontecer com Morgado;

A Volta ao Algarve está de regresso para a 50ª edição. Foto: Volta ao Algarve/Facebook

Prova quer ser cada vez mais apelativa

Apesar de não o fazerem de forma direta, Sérgio Sousa afirma que estas equipas têm algumas exigências especiais, especialmente ao nível logístico: “A qualidade do alojamento e a capacidade de resposta às exigências das equipas é um ponto muito importante no ciclismo. Sentimos que, cada vez mais, as equipas querem unidades hoteleiras que permitam que o próprio cozinheiro utilize as cozinhas dos hotéis e use os próprios produtos”.

Vencedores dos últimos dez anos
2023 – Daniel Felipe Martinez (INEOS Granadiers)
2022 – Remco Evenepoel (Quick-Step Alpha Vinyl Team)
2021 – João Rodrigues (w52-FC Porto)
2020 – Remco Evenepoel (Deceuninck-QuickStep)
2019 – Tadej Pogačar (UAE Team Emirates)
2018 – Michał Kwiatkowski (Team Sky)
2017 -Primož Roglič (Team Lotto NL-Jumbo)
2016 – Geraint Thomas (Team Sky)
2015 – Geraint Thomas (Team Sky)
2014 – Michał Kwiatkowski (Omega Pharma-QuickStep)
2013 – Tony Martin (Omega Pharma-QuickStep) 

Contudo, o foco da organização da prova não passa por “andar a pescar ciclistas”, mas sim por “criar um palco cada vez mais apelativo”, tanto para as equipas como para os atletas. Um dos maiores pontos de interesse desta volta é o facto de acontecer no início da época, altura em que muitos atletas “têm bicicletas novas e querem testar as suas máquinas e a posição delas”. É a oportunidade de muitos destes ciclistas se preparem para a longa época que se avizinha, numa competição de nível elevado.

Normalmente, a Algarvia não costuma fazer grandes alterações na estrutura. Frederico Bártolo acredita que essa constância é uma das razões que ajudam a atrair tantos ciclistas e que mudá-la ia resultar numa perda de adesão: “Se mudasse totalmente o perfil da prova, iríamos perder os atletas ‘voltistas’ que querem vir ao Algarve. Muita gente vem cá para trabalhar no contrarrelógio, para trabalhar subidas curtas, tanto para preparar provas curtas, como de uma semana. Esta acaba por ser uma prova que serve muito para preparação de outras mais importantes“.

Levar “Albufeira ao mundo” num contrarrelógio

A grande novidade desta edição é o contrarrelógio que vai decorrer na quarta etapa. Sérgio Sousa conta que é uma etapa “exigente e rápida” e que “favorece os especialistas” nesta variante. Por outro lado, é também uma forma de “trazer Albufeira ao mundo, de uma forma surpreendente”. A corrida “passa pelo centro da Marina de Albufeira e na encosta de Albergaria velha” e é muito importante para conciliar os “interesses desportivos, económicos e turísticos” da região.

Depois de um ano fora, o final da prova regressa ao Alto do Malhão. Em 2023, terminou com um contrarrelógio na Lagoa. Porém, o diretor da volta afirma que não há nenhuma “história romântica” por detrás deste regresso: “A Volta ao Algarve anda sempre colada à altura do Carnaval (risos). No momento em que calha no domingo de carnaval, nunca podemos chegar ao Alto do Malhão porque Loulé tem grandes tradições carnavalescas”.

A Volta ao Algarve combina os interesses desportivos e turísticos da região. Craig Rogers/Flickr

O melhor dia para realizar o contrarrelógio não é um tópico consensual dentro da organização da Algarvia. A única conclusão a que chegaram é que “favorece quanto mais para o final da prova for”. Nos ciclistas as opiniões também divergem. Os contrarrelogistas preferem que seja no último dia, porque isso dá-lhes a oportunidade de “ir jogando à defesa nas outras etapas”. Já os trepadores, preferem ao contrário. Sérgio Sousa admite que prefere terminar no Alto do Malhão, porque obriga os ciclistas a “arriscarem” e a “ir à procura dessa vantagem”. Esta necessidade de atacar “cria uma maior espetacularidade” e torna a etapa final num verdadeiro “tudo ou nada”.

O contacto com o público é um aspeto fulcral para a organização da Volta ao Algarve. A prova tem algumas iniciativas que reforçam a “sua importância na comunidade local” e que ajudam a “promover a junção dos amantes do ciclismo com as grandes equipas mundiais”.

O Algarve Granfondo é disso exemplo: um evento aberto à comunidade que dá a oportunidade a aproximadamente 900 pessoas de pedalarem nas mesmas estradas que os principais nomes do ciclismo. Para além deste, há ainda um outro evento mais restrito que junta 150 participantes para terem a sensação única de fazer a subida do Malhão, em contexto de Volta ao Algarve: “Isto permite que este grupo de atletas sintam a sensação do que é fazer a subida do Malhão, em regime de competição. O seu tempo será registado e será feito já dentro do espírito do que é a volta, com os adeptos, a festa e as estruturas”. Esta reunião entre adeptos e ciclistas profissionais “dá um grande dia em família, onde de manhã podem pedalar e à tarde assistir à Volta ao Algarve”.

Editado por Filipa Silva