“Trabalhei lá anos da minha vida, desde comédia a revista. O Teatro Sá da Bandeira é um ícone da cidade do Porto e acho inconcebível que o Presidente da Câmara permita uma coisa destas”, afirma Simone de Oliveira, sobre a anunciada venda do histórico teatro portuense.

Ao longo da carreira, Simone já subiu diversas vezes ao palco do Teatro Sá da Bandeira (TSB). “Ao imaginar aquela sala transformada num hotel tenho um vómito…um daqueles vómitos de raiva que eu tenho e que fazem parte da minha forma de estar”, confessa a actriz ao JPN.

Com uma vida dedicada ao mundo do espectáculo, a cantora e actriz classifica o Sá da Bandeira como uma “sala de referência para uma grande geração de actores quer do Porto quer do país”. Pelo TSB já passaram outros nomes grandes do teatro nacional e internacional, como Sarah Bernhardt, Laura Alves, Nicolau Breyner, Raul Solnado e Camilo de Oliveira.

Para Simone de Oliveira, a situação do TSB é um exemplo do “património português que está a morrer há muito tempo e até agora ninguém fez nada. Um dos grandes defeitos deste país que se chama Portugal é ter uma memória muito curta e tentar apagar o passado”.

“A atitude mais óbvia era a remodelação”

Mas nem só os actores erguem a voz contra a venda do Sá da Bandeira. Actualmente são os mais jovens o público preferencial do TSB. Os mesmos que enchem a sala em concertos de bandas como Cansei de Ser Sexy, Nouvelle Vague, Zero 7 e Lamb, ou em inúmeras festas de dança, ao som dos mais conceituados Dj’s nacionais e internacionais.

Para os que ainda frequentam o teatro, o TSB “é a sala de espectáculos mais antiga do Porto. É lindíssima e é uma pena se se perde. E tem de ser recuperado pela sua função enquanto sala de espectáculos”, afirma Ana Moura Pinto.

António Neves, contudo, “não está admirado” com o “desaparecimento” do Teatro. “Depois do Palácio do Freixo, do Mercado do Bolhão, de todo o património da cidade…é mais um. Acho muito mal, obviamente. O teatro está a precisar de uma recuperação, isso é um facto, mas a recuperação não devia passar pela transformação em outra coisa…não se a prioridade fosse a manutenção do património público”, afirma.

Para o actual público do TSB, a remodelação era “a atitude mais óbvia”, mas como diz Marco Martins, “o problema é mesmo o financiamento. Eu não percebo porque é que a câmara às vezes faz tantas coisas desnecessárias no Porto e depois não dá dinheiro para o teatro mais antigo da cidade”, confessa o jovem.

Também para Simone de Oliveira a única alternativa plausível seria “continuar a ser o Teatro Sá da Bandeira, remodelarem-no, fazerem obras e deixarem aquele teatro ser o que é.”

Simone de Oliveira confessa ter uma ligação especial ao TSB: “Guardo as melhores e piores recordações daquele teatro. Foi lá que descobri que tinha cancro. Por isso estou ligadíssima ao Teatro Sá da Bandeira”.