Rogério Gomes não tem dúvidas. Além da moldura policial e jurídica que o caso «Apito Dourado» tem, “há contornos políticos em que é preciso reflectir”. O director de «O Comércio do Porto» afirma que “a acumulação excessiva de cargos numa só pessoa é um perigo em termos democráticos”.

O director do diário portuense considera que o perigo será ainda maior se “estes cargos tiverem interesses concorrentes, como é o caso de uma pessoa ser autarca e dirigente desportivo ao mesmo tempo”.

Rogério Gomes pensa que o exercício de várias funções numa só pessoa traz vários problemas e essa será a principal lição a tirar deste processo: “tenho a certeza de que no futuro os partidos políticos e os responsáveis pela nomeação de pessoas vão ter mais cuidado ao escolher pessoas para vários cargos em simultâneo”.

Para o director, “sobra muito pouco tempo para gerir bem” quando se está envolvido em diversas actividades. E olhando para os conflitos de interesses que podem originar, “é preciso reflectir” se é o melhor caminho: “neste aspecto, acho que o processo «Apito Dourado» vai mudar alguma coisa”.

O director de «O Comércio do Porto» considera que este caso é negativo para o futebol português. “É evidente que não é bom que estas coisas apareçam a pouco mais de mês e meio do Euro 2004. Aliás, a candidatura de Gilberto Madaíl para a Comissão Executiva da UEFA deve estar comprometida”, afirmou.

Já em relação ao facto de algumas das pessoas que estão a ser investigadas estarem ligadas ao Boavista, Rogério Gomes não acredita que, para já, o clube “esteja a ser afectado”.

João Loureiro sai prejudicado

O caso «Apito Dourado» poderá também ter deixado por terra as ambições políticas de João Loureiro. Rogério Gomes argumenta que se já havia alguma resistência política em alguns sectores do PSD em ver João Loureiro na lista para o Parlamento Europeu, então agora os obstáculos para que o presidente do Boavista seja candidato vão ser ainda maiores: “A Concelhia do PSD do Porto já defendia que não queria promiscuidades entre a política e o futebol. Acho que a candidatura de João Loureiro ficou afastada, pelo menos se não ficou, muito dificilmente ficará num lugar elegível”.

O director de «O Comércio do Porto» não sabe o que o futuro reserva a estes casos, mas critica “o desejo colectivo em que aconteçam mais coisas e que haja muita gente implicada”. Rogério Gomes espera que “não surjam mais casos” para bem do futebol português.

Bruno Amorim