Termina hoje o 9º Encontro de Professores de Português. Uma reunião no Europarque marcada pela homenagem à escritora infanto-juvenil, Alice Vieira.

Na era das novas tecnologias, dos telemóveis, das consolas, uma questão se coloca: ainda há espaço para a leitura? Alice Vieira não tem dúvidas. “É um bocadinho tolo estar contra as novas tecnologias. Elas devem servir as crianças e alargar os seus conhecimentos e não substituir coisas que são insubstituíveis. A leitura dum livro é insubstituível”, afirma Alice Vieira. Para esta, “tudo deve coexistir” e as novas tecnologias são um recurso a aproveitar, só não podem “dominar as pessoas”, acrescenta.

A União Europeia já fez aprovar uma norma em que os livros destinados às bibliotecas públicas, ao contrário do que acontece até agora, vão deixar de ser grátis. Será que esta norma não vem agravar os já baixos índices de leitura dos portugueses? Alice Vieira não se mostra preocupada. “Nós, autores que escrevemos os livros que se levam da biblioteca, sabemos que as pessoas o fazem para tirar fotocópias. É mais uma regra para prevenir a má utilização dos livros”, disse a escritora. Alice Vieira garante que “não será o utente a pagar, mas serão as bibliotecas ou as autarquias, ainda não está estabelecido”.

Português muito mal tratado

Portugal encontra-se na cauda da Europa relativamente ao abandono escolar. Ainda esta semana, um estudo apontava que 45% dos estudantes abandonam, prematuramente, o ensino secundário. Números preocupantes? A julgar pelas declarações recolhidas pelo JPN junto dos professores de português, os números são “demasiadamente” preocupantes. “O português nas escolas está com dificuldades e a evidência é o insucesso escolar. Quem está mal a língua portuguesa está mal a tudo”, afirma Aldina Frias, da comissão organizadora do encontro e também professora.

De quem é a culpa? Do Governo que “já poderia e deveria ter sido feito alguma coisa. Há necessidade de rever algumas políticas educativas no que respeita à língua”, alerta Aldina Frias. Rever a “carga horária da disciplina”, o “número de alunos” por turma, apostar na “formação dos professores”, são algumas das áreas que, no entender da professora Aldina, merecem uma atenção especial por parte das “autoridades competentes”.

O português é muito mal tratado e a culpa é do “inglês que se sobrepõe no dia-a-dia por ser uma língua mais económica”, quem o diz é a professora de português de Viana do Castelo, Teresa Araújo. A professora está a “gostar muito” deste encontro, até porque este congresso dá lugar à reflexão “sobre a nossa língua e sobre aquilo que é escrito por autores portugueses”, diz.

Mas nem tudo é perfeito e a também professora de português da Lixa, Maria do Céu, não achou muita graça a certas intervenções “um bocadinho compridas, alargadas e que acabam por afastar, o público, daquilo que é o interesse do congresso”, lamenta a professora. E o interesse do congresso está na escritora homenageada, Alice Vieira. “Gostava de ouvir mais a Alice Vieira, trabalhar com elas as vivências. Havia outro estímulo”, continua Maria do Céu.

Alice Vieira no seu melhor

Todas as atenções e elogios concentraram-se em Alice Vieira. A escritora tem um percurso de vida “invejável”. O seu gosto pela escrita e pela leitura desde logo se manifestaram enquanto criança. A sua infância ficou marcada pelos livros que leu e releu. «O Feiticeiro de Oz», «O Menino Engeitado» ou «O Romance da Raposa», enchiam-lhe os olhos.

Hoje escreve os seus próprios livros e cria as suas próprias personagens. Entre a vasta obra da escritora, os livros mais procurados são: “Chocolate à Chuva” ou “Se Perguntarem por Mim Digam que Voei”, segundo fonte ligada à editora «Areal». A escritora escreve romances, novelas, histórias tradicionais, contos e lendas.

O seu primeiro livro infanto-juvenil data de 1979 e nunca mais parou. Pela sua vasta obra, Alice Vieira já ganhou vários prémios. Entre eles, conta-se o Prémio Calouste Gulbenkian de Literatura infantil e em 1996 foi indicada pela Secção Portuguesa do IBBY (International Board on Books fou Young People) como candidata ao Prémio Hans Christian Andersen, o que foi para si “uma honra”.

Há um objecto que a escritora guarda desde os tempos da sua infância: a máquina de escrever que começou a dar uso aos 13 anos quando inicia a sua colaboração no «Suplemento Juvenil» do Diário de Notícias. Frequentou a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde se licenciou em Germânicas, mas trocou a profissão de professora pela de jornalista e não se arrepende.

Em Portugal a tiragem dos seus livros é de centenas de milhares, assim como no resto do mundo.

Vânia Cardoso